22 de maio de 2025
O Repouso do Guerreiro, de Christiane Rochefort


Oi, pessoal! Samu aqui!



Eu ganhei esse livro na época que trabalhava como professor. Na verdade, essa edição que eu li faz parte de uma coleção chamada Grandes Sucessos, da Editora Abril. A coleção inteira tem 113 títulos (gigante, né?😐) e eu cheguei a juntar aqui em casa uns vinte e poucos, mas até hoje nunca tinha tomado coragem para lê-los. Enfim, esse ano foi o momento de começar.


Iniciei por esse romance chamado O Repouso do Guerreiro, da autora Christiane Rochefort, que foi publicado pela primeira vez em 1958. A história desse livro foi uma das mais difíceis de engolir até hoje. Ele tem como protagonista uma jovem estudante chamada Geneviève Le Theil, que viaja de Paris para uma cidadezinha do interior a fim de receber uma herança da falecida tia.


Contudo, ao se hospedar em um dos hoteis desse lugar, graças ao infeliz acaso, a mulher acaba se envolvendo em encrenca. E por "encrenca" eu me refiro ao encontro dela com Jean Renauld Sarti, o macho escrotaço com quem ela vai se apaixonar perdidamente. Sim, essa é aquele tipo de história em que a mulher fica louca pelo homem e faz das tripas coração para aguentar as merdas situações humilhantes que ele vai impor a ela.


E, quando falo que são situações humilhantes, estou sendo bastante eufêmico, viu? O negócio é bárbaro. Vai escalando cada vez mais e o leitor tem que ter estômago pra seguir com a leitura.


Sendo assim, a começar, Geneviève conhece o Renauld quando este está tentando cometer suicídio. Sendo assim, ela "salva" ele e, por isso, passa a se sentir responsável pela vida do homem. O problema é que esse macho é um baita aproveitador, portanto ele vê ali a oportunidade de parasitar a menina e sugar até o último centavo da herança milionária dela. Isso leva coisa de um ano para acontecer: ele vai morar com a Geneviève e gasta horrores com bebida e cigarro (sim, o Renauld é um alcoólatra).


Com isso, na medida em que eles vão convivendo, assim como todo homem tóxico, o Renauld começa a testar os limites da Geneviève, fazendo cada vez mais coisas que ela desaprova, tais como roubar dinheiro dela, virar noites nos botecos, ir para cama com outras mulheres. E isso é só o começo. Na medida em que a narrativa avança, situações muito sinistras vão acontecendo, desde violência física e sexual até cafetinagem.


Apesar de tudo, a Geneviève ainda insiste nesse "amor" que ela sente. Ela está com uma ideia fixa de que "o amor vai vencer no final", e por isso segue dando murro em ponta de faca, na esperança de que ela vai "fazer ele mudar". A leitura se torna bem frustrante na segunda metade da história, quando a protagonista rompe de vez com a própria família que não aceitava o relacionamento sádico do "casal".


O Repouso do Guerreiro é um livro pesado. Ele retrata uma realidade que infelizmente acontece, é uma ficção bastante crua e revoltante. Ainda assim, o livro é muito bem escrito, trazendo muitas reflexões sobre relacionamento abusivo e temas relacionados. A recomendação fica por sua conta e risco, mas se decidir ler, vá com psicológico preparado. Além disso, existe uma adaptação pra cinema que eu ainda não vi, mas um dia ainda quero assistir, se encontrar.

20 de maio de 2025
[EU ASSISTI] Z: O COMEÇO DE TUDO

 


        Produzida pela Amazon Studios, Z: o começo de tudo mostra-nos a vida de Zelda Sayre, antes de tornar-se Fitzgerald, e o começo do turbulento casamento com o autor de O grande Gatsby nos dando a conhecer a jovem que ela foi, com todos os sonhos e protagonismo, sem estar à sombra do marido. 
         Os dois primeiros episódios da série (sendo 10 ao todo) focam bastante na jovem Zelda Sayre. Filha de um jurista de Montgomery, Alabama, ela pode se dar ao luxo de uma liberdade que não era bem vista nem concedida facilmente às mulheres do início do século XX. Mesmo o país participando da 1ª Gerra Mundial, ela não deixa de frequentar festas e participar de eventos sociais. Apesar de viver em uma cidade pequena e retrógrada, Zelda aproveita a vida a seu modo. 
        No último ano da guerra, ela conhece o aspirante a escritor, Scott Fitzgerald, que se encanta por ela à primeira vista e Zelda, por sua vez, também fica bem iludida pelas promessas de grandeza do galã. Ainda que esteja apaixonada, ela, contudo, decide que só casará com Scott quando o mesmo tornar-se um autor best-seller. Obviamente isso acontece, eles casam e a partir daí acompanhamos o caos de sua vida boêmia em Nova Iorque. 
        O fato é que Scott já tinha um certo desequilíbrio com o álcool e ao tornar-se famoso e ao mesmo tempo recém-casado, fica muito disputado e é sempre convidado para coquetéis, além de ter em seu círculo de amizade outros artistas famosos pela boêmia. A carreira dele começa a apagar o brilho de Zelda, que se vê obrigada a transformar completamente sua aparência e estilo, tornando-se a primeira melindrosa das Américas; exagerando seu lado festeiro para acompanhar o marido e sua trupe, contudo, ela não tem problemas com a bebida, ele sim... Enquanto festejam, os Fitzgerald esbanjam dinheiro e Scott não escreve uma linha sequer de seu próximo romance, algo que os deixa em uma situação financeira e emocional séria. 
      Z: o começo de tudo é um título bastante apropriado ao conteúdo da série, pois, fica bem claro que Scott Fitzgerald só alcançou o sucesso por usar trechos dos diários de Zelda em seu primeiro romance; ele também impediu que ela seguisse carreira como atriz, ou escritora porque, claramente, tinha medo de que ela se tornasse mais famosa e bem sucedida que ele, logo, a trama está bem longe de ser uma história de amor, e mais perto do retrato de um relacionamento tóxico e abusivo de ambas as partes, tornando-se mais prejudicial à mulher por causa da época e dos preconceitos sociais. 

      Para aqueles que, como eu,  também são fascinados pelos "Loucos anos 20", Z: o começo de tudo é encantadora. Os figurinos são deslumbrantes e a interpretação de Christina Ricci como Zelda é perfeita e magnética! É impossível não ficar impressionada quando ela entra em cena. Infelizmente, a série é de 2017 e não houve uma nova temporada, deixando a trajetória do casal em suspenso, mas, se você já conhece o final real dos dois, pode interpretar esse desfecho aberto como algo positivo e até esperançoso. 




13 de maio de 2025
A DANÇA DA FLORESTA

 


         Juliet Marillier é uma de minhas autoras de fantasia favoritas. Suas histórias sempre evocam a ancestralidade do paganismo celta, algo que me interessa muito. Logo, ao saber do lançamento de A dança da floresta, em uma belíssima edição em capa dura da Editora Wish, não tive dúvidas e adquiri meu exemplar. 
        A dança da floresta, contudo, diferente de todos os demais romances da autora que li anteriormente, não fala sobre mitologia celta; a narrativa se passa na Transilvânia do século XVI, mais especificamente, em um castelo bem afastado de qualquer povoamento, onde nossa protagonista, Jenica, vive com suas irmãs e seu pai, um mercador. Lá, morando bem próximo à floresta, as jovens terão contato com criaturas mágicas e com o Reino das Fadas e em todas as noites de lua cheia, as jovens visitam esse lugar místico para dançarem por toda a noite e, no dia seguinte, retornam as suas obrigações cotidianas. 
        É claro que, como em qualquer livro de Juliet Marillier, há aqui uma disputa entre o feminino e o masculino abusivo, ao passo que o masculino complementar existe nas sombras e precisa ser descoberto e salvo. Outro ponto muito relevante, para mim, é a releitura do conto de fadas As princesas dançarinas que nos é mostrado em A dança da floresta de forma criativa e encantadora. 
         Mas, nem tudo são flores... A questão da masculinidade tóxica e abusiva permeia toda a obra e pode incomodar bastante. É bem ultrajante ver como a pouca liberdade de Jena e suas irmãs é minada por seu primo, César. Confesso quase ter desistido da leitura por causa disso, persisti, felizmente, e fui recompensada por um final maravilhoso com gostinho de continuação. 
        A edição da Editora Wish, inclusive a primeira de A dança da floresta aqui no Brasil, é muito linda. A capa ilustrada por Janaína Medeiros, também responsável belas belas artes presentes em todo o livro, é muito bonita e delicada, ademais, o exemplar vem com uma capa de proteção que também enche os olhos por sua beleza; o projeto gráfico como um todo faz jus a obra de Juliet Marillier e eu espero que a editora publique sua continuação também!

8 de maio de 2025
Corte de Asas e Ruína - Sarah J. Maas

 Olá, pessoal! Samu aqui!




Terminei o último livro da trilogia de Corte de Espinhos e Rosas (ACOTAR, para os bookstans mais íntimos, né). O terceiro livro se chama Corte de Asas e Ruína, e é exatamente isso o que ele é para mim: uma ruína. Pois bem, eu acho que não estava mais na vibe para seguir lendo a série, por isso a leitura se tornou maçante em alguns momentos. Contudo, depois de muita fé e coragem, concluí esse calhamaço de quase 700 páginas.

Nessa altura do campeonato evitar spoilers é um troço meio impraticável, então eu aconselho deixar para ler essa resenha apenas se você já tiver lido o livro 2, mas fica por sua conta e risco, ok?

Nessa nova etapa da história, nossa protagonista safadona (Feyre) arma um plano para se infiltrar na Corte Primaveril e descobrir os planos “malégnos” do grande vilão sem nome, o rei de Hybern. Em seguida, após completar sua vingança (porque ela foi lá mais para se vingar do ex-namorado tranqueira do que outra coisa), a Feyre volta para os braços do boy magia, que é o atual dela (Rhysand), e ambos convocam uma grande reunião de guerra com todos os Grão-senhores de todas as sete cortes de Prythian, incluindo a infame Corte Primaveril. Juro que adorei a cena da reunião de guerra, foi o ponto mais alto do livro para mim.

Daí em frente a história passa a se atropelar. Parece que a autora se perdeu na quantidade de acontecimentos que entrariam no livro e, quando percebeu, a história já tinha passado das 500 páginas. Sendo assim, o final com a guerra foi extremamente corrido e todos os vários personagens que até então só foram citados, do nada, foram enfiados no meio da batalha final de um jeito que fiquei com aquela sensação de “ué?”.

Também achei bem nada a ver uma cena específica no fim do livro em que a Morrigan finalmente revela o motivo de ela ter passado os últimos 500 anos colocando o Azriel na friendzone. Cara, eu super entendo que a Sarah J. Maas concorre com outras autoras de fantasia, como a Holly Black e a Cassandra Clare que colocam personagens LGBT+, mas isso que a Sarah fez foi meio desserviço (meu ponto de vista, claro). Inclusive, o momento em que ela decidiu “encaixar” essa revelação da Morrigan foi completamente absurdo, só faltou ter uma fala da personagem dizendo: “Feyre, eu sei que estamos LITERALMENTE no meio da guerra, mas eu preciso te confessar sobre minha sexualidade”. What?!

Mas, por outro lado, eu me diverti muito (como sempre) com as cenas da Amren, que pra mim é de longe a melhor personagem da trilogia. Gostei especialmente da atuação dela no desfecho da guerra, só queria que tivesse durado mais. Além disso, o final deixou uma grande interrogação sobre o Tamlin, espero que haja algo sobre ele no spin-off, Corte de Gelo e Estrelas, que lerei em breve. E, por fim, continuo com a mesma opinião do livro anterior: é uma trilogia com uma premissa interessante, mas se tivesse ao menos sido escrita em terceira pessoa, talvez, fosse mais legal.


6 de maio de 2025
ANNE with an E

 


    Em momentos difíceis e desesperadores é necessário procurar algo que nos traga alento, nos faça sorrir e sentir aquele tão desejado "quentinho no coração", para isso, não há nada melhor do que maratonar uma série linda e encantadora como Anne with an E, se, é claro, abraços quentinhos não estiverem disponíveis no momento. 
    Antes de discorrer sobre a história de Anne with an E e minhas opiniões a respeito dessa obra, preciso dizer como se deu nosso primeiro contato: no início de 2019 uma aluna me indicou a série; assisti metade do primeiro episódio e não gostei! achei Anne tão artificial! Contudo, casei e, ao passar longas horas sozinha após o trabalho (O Samu chegava mais tarde do que eu na época) e ler várias críticas positivas sobre a série, decidi dar mais uma chance à Anne with an E e maratonei as duas primeiras temporadas em uma semana, tal foi o efeito da ruivinha na minha vida. Vale lembrar que na época ainda não conhecia os livros de Lucy Maud Montgomery. 
    Em Anne with an E somos apresentados a dois irmãos de meia idade, Marilla e Mathew Cuthbert, moradores da propriedade rural, Green Gables, na cidade fictícia de Avonlea, na Ilha do Princípe Eduardo, um lugar de beleza natural estonteante. Por causa da idade, eles decidem adotar um menino para ajudá-los, porém, como não podem sair de lá devido ao trabalho, pedem a uma vizinha para ir ao orfanato encontrar uma "criança adequada". A vizinha se confunde e, para o espanto de Mathew e o horror de Marilla, traz uma menina magricela, ruivinha, cheia de sardas e de uma criatividade invejável, esta é Anne Shirley, a nossa Anne with an E
    Mesmo com toda a sua criatividade e doçura, por ser órfã, Anne já passou por muitos traumas que lhe deixaram marcas profundas, por isso, quando Marilla diz querer um menino, ou quando as pessoas de Avonlea a tratam com desdém e desprezo, isso aciona gatilhos em sua mente, deixando-a atordoada. 


    O encanto de Anne with an E está justamente no modo como a protagonista encara as situações adversas: sempre com a cabeça erguida, sendo positiva e bem impulsiva, esta última sempre lhe rendendo até mais problemas. Na verdade, quase todos os grandes dilemas a serem resolvidos são consequências de uma ação impensada da menina, até porque ela, como qualquer pessoa, não é perfeita, é um ser humano em constante evolução. 
    Ao se estabelecer em Avonlea após conquistar os corações dos Cuthbert, Anne faz algumas amizades, sendo as mais importantes a de Diana, sua "alma irmã"; Cole, um jovem artista gay; e Gilbert Blythe, que torna-se também seu interesse amoroso. 


    Na segunda temporada somos transportados, temporariamente, a uma "febre do outro" em Avonlea. Depois, conhecemos novas personagens que vão abalar as estruturas da pacata e preconceituosa cidade. 
    Já a terceira temporada, para tristeza e decepção de todos, começou com a péssima notícia de que seria a última, pois Anne with an E fora cancelada! Protelei bastante em assistir esse capítulo final da história da ruivinha na televisão, mas, enfim assisti. Nesse momento, Anne busca descobrir mais sobre seus pais e seu passado enquanto prepara-se para ingressar na universidade, além de, finalmente, assumir para si mesma que ama Gilbert Blythe, há também uma trama muito interessante sobre os indígenas canadenses que foram torturados e aculturados por décadas e esse terrível fato da história do Canadá começa nesse mesmo período, início do século XX. 
    O roteiro de Anne with an E é muito interessante, pois conseguiu introduzir temas como homofobia, feminismo, racismo, direito dos indígenas e bulliyng de forma muito atual, porém oscila ao tratar desses assuntos: apresenta-os de forma bem dramática para, depois, nos dar um desfecho pouco crível com a situação da época e, na última temporada, a situação dos indígenas fica totalmente em aberto. 
    Ainda assim, é impossível assistir a Anne with an E e não se deslumbrar por sua fotografia e trilha sonora. É tudo tão lindo e, aparentemente, muito carinho foi colocado nessa produção. Como dito antes, Anne nos cativa e encanta apesar de não trabalhar em profundidade as pautas sociais que introduz. 
    Mesmo correndo o risco de partir seu coração, porque só há três temporadas, dê uma chance a Anne with an E e permita-se embarcar nas encantadoras aventuras da ruivinha, até porque, como já mostrei, existe toda uma série de livros para você acompanhar depois. 



1 de maio de 2025
Warcraft: Durotan, de Christie Golden



Eu tenho uma história pra contar sobre o dia em que comprei esse livro. Era meu primeiro dia de férias e eu estava super empolgado pra passar o dia todo em casa fazendo vários nadas. Era uma segunda-feira, então a Andréa tinha que trabalhar. E, sendo assim, eu acompanhei a honorável esposa até o ponto de ônibus.


Acontece que já tem uns anos que eu trabalho de home office, portanto não tenho muito costume de sair de casa, principalmente sozinho. Sendo assim, naquele dia esqueci de pegar minha chave e acabei ficando preso na rua😅. Mas por sorte eu tinha pego minha carteira, então decidi dar um rolê solitário em alguma livraria. Foram essas as circunstâncias que me levaram a comprar Warcraft: Durotan, da autora Christie Golden.


Sinceramente, eu sempre tive preconceito com livros baseados em videogames, por isso não estava esperando nada desse livro. Porém, a história dos Orcs do clã Lobo de Gelo me prendeu a cada página. Aqui temos uma fantasia muito bem escrita, com um enredo cheio de reviravoltas.


Sendo assim, a narrativa tem como protagonistas esse clã de Orcs chamado Lobos de Gelo. Eles vivem no norte do continente, o que me lembrou em alguns momentos do primeiro livro de Crônicas de Gelo e Fogo. Os personagens principais são Durotan, o filho do líder do clã, que eventualmente assumirá o manto do pai; a Draka, uma Orc exilada; e Orgrim, o carequinha marombeiro.


Os primeiros capítulos apresentam bem a cultura desse clã de Orcs, um estilo de vida duro nas montanhas e no frio, a caça, os costumes tribais e rústicos, o senso de honra, o orgulho de pertencer aos Lobos de Gelo. Contudo, a vida dessas pessoas vai mudar com a chegada de um Orc estrangeiro conhecido como Gul'dan, o bruxo. Ele vem para fazer uma proposta aos Lobos de Gelo: o mundo está acabando e, para sobreviverem, todos os clãs Orcs precisam se unir em uma única nação, batizada de "A Horda".


Ao orvir a tal proposta do bruxo, o pai de Durotan acha aquela conversa absurda e declina. Porém essa decisão vai trazer consequências terríveis para seu clã. Quais consequências? Eu não vou contar! Mas garanto que o livro até o final é eletrizante! Inclusive, um detalhe que ainda não mencionei é o fato deste livro ser uma prequel do filme Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos. Portanto, recomendo muito essa leitura, se você já assistiu e gostou.


29 de abril de 2025
O MUNDO PERDIDO

 


    Quando eu era criança, assistia, todo os dias, no final da tarde, a uma série televisiva chamada O mundo perdido. Adorava a ambientação, as criaturas pré-históricas e todo o sobrenatural e a fantasia que envolviam a trama. Duas décadas passaram e descobri ser essa uma adaptação do livro homônimo de Sir Arhtur Conan Doyle, o criador do icônico detetive Sherlock Holmes. Nunca me interessei pelas narrativas que trazem esse personagem, mas, estava curiosa, ávida, de verdade, por conhecer a fonte de uma das séries favoritas da minha infância. 
    Em O mundo perdido somos apresentados, primeiramente, ao nosso narrador-personagem, Edward Malone, um jovem jornalista irlandês que mora em Londres e é apaixonado por uma moça que só aceita casar-se com ele se o mesmo se mostrar um homem de coragem, um desbravador. Por causa disso, o rapaz confronta um grande e excêntrico zoólogo, Dr Challenger, conhecido por espancar jornalistas, mas que parece ter a aventura perfeita para um homem colocar sua coragem à prova. 
    Depois de muitas evasivas e até de bastante violência por parte do pesquisador, Ed consegue convencê-lo a revelar suas descobertas e o professor fica tão animado com o entusiasmo do jovem que cria um plano para realizar uma nova expedição. Isso só acontece porque a comunidade científica não acredita na palavra de Challenger, que diz ter encontrado O mundo perdido, onde criaturas pré-históricas ainda vivem.
    O planejamento dá certo e um grupo é formado para a expedição, composto por Malone; um caçador, Lord Roxton; um membro da academia, professor Summerlee; e o próprio Challenger. A partir deste ponto a história de Sir Arthur Conan Doyle torna-se verdadeiramente interessante, pois a entrada para O mundo perdido fica aqui no Brasil, mais precisamente, na Amazônia. É nesse momento também que a narrativa pode interessar antropólogos e sociólogos, pois o discurso eurocêntrico e eugenista que tanto marcou o final do século XIX e começo do XX, catalizador de diversos conflitos armados sendo alguns deles as duas Grandes Guerras Mundiais, é bem demarcado aqui pelas falas dos protagonistas, pelo modo como tratam mestiços, indígenas e negros. 
    É justamente por causa desse preconceito e atitude de pretensa superioridade que eles são traídos e deixados para morrer no platô de O mundo perdido, sem saber o que os aguarda à fente e sem poder retornar para a "civilização". 
   A história do livro é bem diferente do que eu me lembro da série. Principalmente, no que diz respeito às personagens. Ed é um medroso que finge coragem, tornando-se imprudente; Challenger é execravelmente arrogante e eugenista, um insuportável; Lorde Roxton é mais ativo e Summerlee não é um velho de todo chato e rabugento. 
    Para uma primeira experiência com a escrita de Sir Arhtur Conan Doyle foi interessante acompanhar Ed Malone e seus companheiros em O mundo perdido. Apesar do pesares, o enredo é bem construído aos moldes das narrativas de aventura do século XIX, ou seja, tudo é muito providencial, e isso não é motivo para desprezar a obra, mas as falas e atitudes altamente preconceituosas dos protagonistas são enervantes e acabaram tirando todo o divertimento da leitura para mim.