30 de outubro de 2021
A filha da feiticeira, de Paula Brackston

 



    Desde a época de seu lançamento em 2008, A filha da feiticeira já despertava muito minha curiosidade, por motivos óbvios... O tempo foi passando e acabei deixando para trás essa obra de Paula Brackston. Esse ano, porém, decidi lê-la e até que minhas altas expectativas não foram totalmente frustradas.
    Em A filha da feiticeira, acompanhamos a triste e desoladora trajetória de Elizabeth Hawksmith, uma mulher fadada ao isolamento da imortalidade e perseguida por um bruxo das trevas, Gideon Masters. Obcecado por ela, ele não mede esforços para encontrá-la, usando de muita crueldade para isso... 
    O momento em que conhecemos Elizabeth é no presente da narrativa, 2007. Mais uma vez, ela está mudando para uma nova casa, uma nova vida. Mas sempre com medo de seu terrível perseguidor. Na nova cidade, ela conhece uma adolescente negligenciada pela mãe e carente de atenção. 
    Apesar de muito reservada, ela apega-se a moça, Tegan, e começa a ensinar-lhe a "Arte", contanto, antes disso, sua própria história disfarçada de "experiências de antepassadas". É assim que Paula Brackston brilhantemente mescla a narrativa de Bess (um dos apelidos da protagonista) com eventos históricos, evidenciando uma extensa pesquisa anterior à construção de A filha da feiticeira
    Bess foi uma jovem camponesa lançada ao infortúnio de ver seu pai e irmãos padecerem por causa da Peste Bubônica; e sua mãe ser enforcada, sob acusações (verdadeiras) de bruxaria, algo marcante na existência da jovem. Isso, pois,  sua mãe tornou-se bruxa ao aliar-se a Gideon Masters a fim de salvar a filha do destino dos demais familiares. Bess realmente sobrevive, porém, o preço a pagar é muito alto... 
    Sempre fugindo, Elisa atravessa eras pulando de cidade em cidade, tentando ajudar as pessoas, salvar vidas com o poder que pagou caro para receber. Ela testemunha os assassinatos de Jack, o estripador; Participa da 1ª Gerra Mundial, ajuda muitos, entretanto, o rastro de sangue e morte causados por seu algoz sempre a acompanha. 
    Não posso negar: a escrita de Paula Brackston é bem envolvente. Terminei a leitura de A filha da feiticeira em apenas três dias! Contudo, algumas ressalvas precisam ser consideradas na consideradas na construção da narrativa: 

1. O título do livro; 
2. Por que Bess não fugiu para outros países? 
3. Por que ela continua usando sempre o mesmo nome? 
4. De onde vem seu poder? 
5. Por que sua mãe, mesmo sabendo que Gideon não prestava, a condenou a viver presa a ele? 
6. Por que, mesmo sentindo estar em perigo, Bess nunca elaborou um plano para antecipar-se a Gideon e destruí-lo? 

    Infelizmente, A filha da feiticeira não possui continuações, logo, esses questionamentos pairam no ar. Ainda assim, gostei muito da experiência e gostaria de ler mais dessa autora. 

23 de outubro de 2021
Eu, Tituba Bruxa negra de Salém, de Maryse Condé

 



Desde o ano passado, meu interesse por magia e bruxaria tem aumentado bastante. Além de livros teóricos que adquirimos e estamos lendo aos poucos, também estou lendo romances sobre o assunto e um dos mais interessantes de todos até agora é Eu, Tituba Bruxa negra de Salém, da autora Maryse Condé. Detalhe: quero ler tudo o que essa mulher maravilhosa já escreveu! 

Com certeza, em algum momento de sua vida, você ouviu falar a respeito de As bruxas de Salém. Episódio de histeria coletiva ocorrido na aldeia homônima, em 1692, o qual resultou em 19 pessoas condenadas por bruxaria. A única sobrevivente desse horror foi a primeira acusada, uma mulher caribenha escravizada, cujo nome era Tituba
Em Eu, Tituba Bruxa negra de Salém, Maryse Condé nos brinda com uma narrativa poética e pungente, tentando preencher as lacunas a cerca da vida pregressa de Tituba e o que houve com ela depois de Salém. Isso porque por tratar-se de uma mulher negra escravizada, ninguém se importou em registrar sua história, origem e paradeiro. Aqui entra a magistral pesquisa e criatividade de Maryse Condé ao criar uma narrativa coesa e quase factual sobre a vida dessa mulher. 
Eu, Tituba Bruxa negra de Salém já começa com um soco no estômago: a concepção da personagem acontece através de um abuso que sua mãe, Abena, uma jovem princesa do povo Axanti, sofreu durante a viagem da África até Barbados, onde seria escrava de um fazendeiro. Ao nascer, Tituba descobre um amargor na vida, pois sua mãe a rejeita e a menina a perde muito cedo de uma forma bem trágica e desoladora. 
Aos sete anos, a jovem conhece uma bruxa nagô que lhe ensina tudo o que sabe sobre a natureza e o contato com os mortos ou "invisíveis". Mas este relacionamento também não dura muito tempo no plano físico, ficando Tituba apenas com a presença invisível de seus entes queridos para confortá-la e orientá-la em sua triste jornada de mulher negra escravizada. 
Escravizada não apenas por sua cor ou condição de mulher, mas também por seu desejo. O desejo de ter consigo John Indien a faz cometer diversos erros que a levam a servir Samuel Parris na aldeia de Salém. Lá, indo contra todos os avisos dos invisíveis e até mesmo de seu imprudente marido, Tituba cria uma relação de amizade e carinho pela filha e pela esposa de Parris, sendo esta a sua ruína. 
A partir desse ponto, Maryse Condé reconta "do ponto de vista de Tituba" os acontecimentos de Salém, mostrando-nos em detalhes todo o sofrimento que nossa protagonista poderia ter enfrentado durante sua prisão, tortura e absolvição. Como já era de se esperar, ela não será libertada, e sim escravizada novamente, até, por fim, retornar a Barbados e encontrar, mais uma vez, uma triste realidade... 
Eu, Tituba Bruxa negra de Salém nos mostra a trajetória ficcional de uma personagem histórica que facilmente poderia ser verídica. Infelizmente, sua vida foi cheia de desventuras e muita tristeza. Ainda assim, por mais agridoce que seja seu desfecho, Maryse Condé nos dá uma gotinha de esperança em seu livro. 







16 de outubro de 2021
Bruxaria, de Nancy Holder e Debbie Viguié


    Sim, estamos fazendo um mê de outubro bem temático tendo como foco as bruxas! Aproveitando que estava nessa vibe, primeiro, li Da Magia à Sedução, uma história interessante e cheia de saudosismo. Depois, adentrei o campo da literatura teen e agora venho mostrar minhas impressões sobre o livro Bruxaria, das autoras Nancy Holder e Debbie Viguié

    Bruxaria narra a conturbada trajetória de Holly Carthers, uma garota no último ano escolar que tinha uma vida bem comum, mas durante as férias de verão perde os pais e a melhor amiga em um trágico e inexplicável acidente. 

    Depois disso, a jovem decide ficar com a mãe de sua melhor amiga, contudo, a mulher é acometida por um mal súbito e também inexplicável, ficando em coma. Sem outras alternativas, a garota precisa ficar com a tia, até então desconhecida, Marie Claire, e se muda de São Francisco para Seattle. 

    Nossa protagonista acredita serem todas essas desventuras mera obra do acaso, mas, nós, leitores, sabemos que o amante de Marie Claire, Michael Deveraux é um bruxo e quer matar todas as mulheres da família Carthers, em especial, Holly, pois esta é detentora do poder ancestral de seu sangue. 

    Nancy Holder e Debbie Viguié intercalam momentos do passado, nos quais vemos uma profecia surgir da união das "confrarias" inimigas Deveraux e Cahors; com o presente, no qual Holly e suas primas precisam desvendar os mistérios ao redor de sua família e dos homens que as cercam. Obviamente, como não poderia faltar em uma narrativa teen, há um romance, almas gêmeas e toda a papagaiada que já típica. 


Agora, vamos às polêmicas!




    Já no prefácio, Nancy Holder e Debbie Viguié pedem desculpas por deturpar símbolos do paganismo justificando que se não o fizessem o livro Bruxaria não existiria. A questão é que essa narrativa não deveria ter sido publicada mesmo! Isso porque trata-se de um desserviço às religiões pagãs ou neo-pagãs. 
    Nancy Holder e Debbie Viguié trazem pontos de vista extremamente equivocados e preconceituosos a cerca de simbologias do paganismo. É ultrajante ler as referências à "magia negra" feitas pelos Deveraux que cultuam o Homem Verde e o deus Cernnunos
    As autoras afirmam terem feito uma extensa pesquisa antes de escreverem Bruxaria. É perceptível, porém, que as fontes, se existem mesmo, não são nada confiáveis. O que lemos nesse livro, capítulo após capítulo é uma chuva desagradável de preconceito cristão contra o paganismo, algo deveras perigoso, visto que Bruxaria é um livro voltado para o público jovem, logo, tem grandes chances de incutir em seus leitores inexperientes uma semente de intolerância por algo que provavelmente eles desconhecem. 
    Se ainda for preciso afirmar, não gostei dessa leitura. O estilo das autoras é até interessante, mas é impossível corroborar com toda essa sucessão de equívocos. Nem preciso dizer que a capa, bem como o título são chamativos e despertam a curiosidade, todavia, já aviso: não valem a pena. 



12 de outubro de 2021
5 Animações com a "cara" do Halloween

 


Hoje é dia 12 de outubro, Dia das Crianças e nada melhor para comemorar essa data do que falar de uns desenhos um pouco macabros que assistia na infância. Se você foi criança entre o final dos anos 90 e começo dos anos 2000, como eu, com certeza conhece esses aqui também! 



O primeiríssimo não podia deixar de ser Coragem, o cão covarde. Gente, confesso que tinha muito medo desse desenho, e mesmo assim não perdia um episódio! Qual era o seu favorito? 



Eu não lembro se Mona, a vampiro passava na Band ou na Rede Tv, só sei que meus sábados de manhã não eram completos sem assistir a uma das aventuras malucas da turma de Mona. 



O Segredo além do jardim é o único nessa lista que conheci depois de adulta. Adoro esse desenho! Você consegue assisti-lo completo pelo Youtube. Já perdi as contas de quantas vezes acompanhei a história bizarra dos protagonistas perdidos em um mundo que mais parece um purgatório. Vale a pena assistir! Tem muitas referências à A Divina Comédia e a música de abertura também é muito boa! 



Agora, uma lista de animações com a cara do Halloween não pode deixar de fora Scooby-Doo, né! Trouxe para vocês dois filmes da Mistérios s.a. que vão maravilhosos e fáceis de encontrar pelas interwebs: Scooby-Doo e a escola assombrada e Scooby-Doo e o fantasma da bruxa. Sério, gente, essas produções são muito legais e trazem um saudosismo quentinho para o coração, sabe? 





Então é isso. Desejo a todos vocês um feliz dia das crianças, afinal, todos temos uma criança interior e ela precisa ser celebrada com o melhor! =D






9 de outubro de 2021
Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman

 

    Os anos 90 foram recheados de magia e fantasia com maior ou menor grau de sedução... Tais como Jovens bruxas, As Crônicas Vampirescas e Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman. Este último fez grande sucesso na época, ganhando uma adaptação estrelada por Sandra Bullock e Nicole Kidman

    Em Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman seguimos a trajetória de duas irmãs órfãs: Sally e Gillian Owen. As meninas ainda muito pequenas perderam os pais em um acidente absurdo. Por causa disso são enviadas para as únicas parentes vivas: as gêmeas de meia idade Bridget e Frances, irmãs mais velhas de seu pai.  

    Ao chegarem em Massachusetts, onde fica a antiga casa da família, as meninas encontram uma realidade bem diferente. As tias não estão preocupadas com sua educação, todos na cidade parecem temê-las, ao mesmo tempo que mulheres desesperadas batem à porta pedindo por ajuda... 



    É sabido na cidade que as mulheres Owen são bruxas. Elas herdaram seus poderes de sua matriarca, Maria Owen, uma imigrante escocesa que, ao ser enganada pelo homem que pensava ser o grande amor de sua vida, lança uma maldição em todos os seus descendentes para protegê-los de falsos amores. 

    Por terem presenciado alguns feitiços das tias e não tendo idade para entender nada daquilo, Sally e Gillian prometem jamais se apaixonarem por ninguém. O tempo passa, contudo, Gillian torna-se a jovem mais bela e irresponsável da cidade, abandona tudo para casar e larga o marido pouco depois, tudo isso antes dos vinte e um anos. Enquanto isso, Sally é o próprio arquétipo do signo de Virgem: organizada, neurótica com limpeza, focada e preocupada com o bem estar de todos, mas sempre esquecendo-se de si mesma. 

    Por anos ela mantêm-se firme em sua promessa de nunca se apaixonar. É quando encontra um homem encantador. Eles casam, têm duas filhas e ele morre tragicamente logo depois... Importante ressaltar que após o casamento Sally consegue ter uma vida quase "normal", pois durante toda a sua infância e adolescência foi marcada pelo estigma de ser uma Owen, sofrendo com a repulsa das pessoas. Ao perder o marido, ela decide não permitir que a maldição alcance suas filhas e se muda para Nova Iorque. 

    Mais uma vez, o tempo passa e agora as meninas Kylie e Antônia já são adolescentes. Sally conseguiu tudo o que queria: um emprego estável, uma bela casa com uma vizinhança agradável, horários fixos, regras estabelecidas e cumpridas, enfim, a vida é boa. 

    Infelizmente, em uma noite de verão, ela recebe a visita de sua irmã, a qual não via desde a fuga. Sally estranha a visita, mas logo descobre que a irmã mais nova está bem encrencada. Gillian matou o namorado abusivo e precisa livrar-se do corpo. A irmã mais velha, então, sedenta por mostrar-se útil e superior, decide enterrá-lo no jardim. Elas só não imaginavam que morto, o namorado sociopata de Gillian seria muito mais perigoso... 



    Da Magia à Sedução começa com um ritmo lento, mas progride pouco a pouco até que o leitor já está muito envolvido com os dramas das mulheres Owens. Alice Hoffman é uma ótima contadora de histórias. Consegue nos manter interessados em uma narrativa cujo conflito principal começa bem próximo de seu fim! 

    Em Da Magia à Sedução as mulheres brilham e têm um verdadeiro protagonismo, sem precisarem "apoiar-se" em um homem. Eles estão presentes na trama apenas como meros coadjuvantes. Já gostava do filme e gostei ainda mais de conhecer o texto original. Essa é com certeza uma ótima história de bruxas! 





3 de outubro de 2021
[Respondendo a Tag] Literária de Halloween


Eu sei, gente, sumi, sumi bem sumida por aqui, mas estou sendo mais assídua lá no instagram, (se quiserem podem me seguir por lá: @andrea.livrelendo) confesso que a vida anda tão maluca que sentar na frente de um computador para postar aqui no blog tem sido difícil, contudo, não poderia deixar esse Halloween passar em branco, por isso trago essa tag literária que encontrei no blog Mundinho da Hanna. Achei bem criativa e uma boa forma de tentar voltar para cá =) 



1. Fantasma: aquele livro que explodiu no lançamento, mas hoje ninguém mais ouve falar. 

Nossa... Que difícil essa! Acho que entre as pessoas que eu conheço, o livro O Caçador de Pipas era muito comentado na época de seu lançamento, contudo, há muitos anos não ouço nem vejo comentários sobre ele. 



2. Frankenstein: um personagem que todo mundo acha que é um monstro, mas você sabe que no fundo ele é só incompreendido

Acho que vou chover no molhado, mas, realmente, não me veio nenhuma personagem em mente além de Heathcliff, de O Morro dos Ventos Uivantes, pois ele teve atitudes atrozes? Sim. Só que talvez, se ele não tivesse sido tão vilipendiado na infância, não tivesse cometido os erros da vida adulta...



 

3. Morcego: um livro que você passou a madrugada lendo. 

Esse aqui é fácil! Battle Royale foi uma leitura visceral que fiz em 2018. A brutalidade na qual uma turma de jovens do 9º ano de um colégio japonês é colocada é absurda e envolvente. O autor Koushun Takami consegue, com maestria, nos emocionar e fazer torcer por esses jovens, mesmo sabendo que apenas um será o vencedor e sairá vivo dessa batalha sangrenta...




4. Zumbi: uma leitura que você achou difícil e teve que forçar o cérebro para conseguir entrar na história.

Olha, adoro a escrita da autora Cornelia Funke, porém, Coração de Tinta foi um grande desafio para mim! Passei meses tentando lê-lo. Em alguns momentos ficava interessada, em outros, totalmente enfadada, enfim, foi uma experiência bem ruim... 



5. Bruxa: uma personagem difícil de se relacionar. 

Com certeza Marius di Romanus, personagem criado por Anne Rice em suas Crônicas Vampirescas. Gente do céu, como o Marius é chato! Ô criatura recalcada!! Tinha inveja da esposa, a vampira Pandora, tinha inveja do Lestat, até do Armand ele tinha um certo despeito! Cara chato, viu!



6. Múmia: um livro que você enrolou para ler.

Por incrível que pareça, esse eu li na mesma época de Coração de Tinta.... Os Pássaros, de Frank Baker é chato, gente, mas é chato em um nível que a história só começa mesmo a acontecer nas últimas 30 páginas! Demorei quase um ano para concluir essa leitura, o que me deixou bem chocada e atordoada! Felizmente, a edição da DarkSide é linda, porque vai ficar só como decoração mesmo...



7. Esqueleto: aquele lançamento que você cansou de esperar. 

Sempre quis ler o livro Bliss, da autora Lauren Myracle, mas seu lançamento original foi em 2011 e até hoje nunca ganhou uma edição aqui no Brasil... E poxa, gente, a história parece ser tão legal! Passando-se na mesma época em que a família Manson cometeu seus crimes brutais, tento a protagonista envolta em algum mistério parecido... Seria muito legal se alguma editora trouxesse essa obra para cá! 



8. Abóbora: um livro que você achou que seria maravilhoso, mas virou abóbora no meio do caminho. 

Sem sombra de dúvidas, Branca de Neve tem que morrer! Nossa! A premissa prometia tanto! Um thriller de tirar o fôlego e, nas primeiras páginas, foi mesmo! Contudo, da metade para o final o negócio degringolou de um jeito... Que a leitura tornou-se risível...


É isso, gente! Agora quero saber de vocês quais seriam suas respostas a essa tag!? Digam-me nos comentários ❤️




24 de maio de 2019
Lua de Larvas - Sally Gardner



     Não é segredo nenhum que eu sou uma verdadeira adoradora do gênero distopia. Gosto muito dessas tramas envolvendo organizações sociais e a tão empolgante e inevitável luta dos indivíduos pela liberdade. Contudo, não escondo também que muitas distopias teen me decepcionaram ao longo dos anos e acabei deixando-as de lado para evitar a fadiga. Felizmente, conheci a narrativa de Lua de Larvas, há algum tempo atrás, anotei a dica e a experiência não poderia ter sido melhor!
     Narrado em primeira pessoa por Standish Treadwell, um garoto de dezesseis anos, Lua de Larvas nos mostra uma realidade ao mesmo tempo familiar e bem diferente da nossa, chegando a ser grotesca. A familiaridade está no fato da história se passar durante o período conhecido como "Corrida Espacial" e a insistente tentativa de levar o homem à Lua. Entretanto, as diferenças são gritantes: a organização social desse país anglófono intitulado Terra Mãe é autocrática. Aparentemente, este sofreu, além da Segunda Guerra Mundial, um conflito civil, pois está quebrado em todos os sentidos. A população vive em condições sub-humanas e é vigiada o tempo todo. Qualquer manifestação contra o regime é brutalmente cessada. Todos vivem com medo. Todos desconfiam de todos.
    Ademais, A Terra Mãe é contrária a todo e qualquer tipo de defeito, o que deixa nosso protagonista na mira do governo, porque ele tem problemas cognitivos, possui heterocromia e seus pais estão desaparecidos por não apoiarem o governo... No momento em que a história começa, além dos pais, ele perdera também seu único e melhor amigo, Hector, que desapareceu juntamente com a família.
Stan sofre muito por causa dessas perdas, pois os amava muito e sempre fora protegido por eles e, agora, era perseguido constantemente por colegas da escola e pelo professor também.
     A narrativa caminha de forma não linear alternando tempo cronológico (presente) e psicológico (flash backs). No primeiro, acompanhamos o protagonista em seu dia-a-dia e vemos como A Terra Mãe é muito cruel, além do anúncio da possível chegada do homem à Lua. No segundo, vemos o passado do garoto, seus pensamentos e planos e descobrimos que as famílias dele e de Hector não estavam na mira do governo à toa, e que eles escondem um segredo que pode mudar os rumos de todo o universo deles.
    A trama de Lua de Larvas é repleta de críticas e simbolismos. O início de cada capítulo é ilustrado pela figura de um rato que vai se modificando e tem relação direta com a o desenvolvimento e até mesmo com o desfecho da trama. Há também um certo quê de representatividade, por causa do modo como a autora retrata o Stan (que claramente tem um grau leve de autismo) e a descoberta da sexualidade.
   Lua de Larvas pode ser categorizado como uma distopia teen por causa da idade de seu narrador protagonista, mas não se assemelha em nada com a superficialidade deste gênero, entregando-nos uma narrativa curta em páginas, porém densa, complexa e verdadeiramente reflexiva.