12 de agosto de 2025
O QUINZE

Um livro de perdas...



 

    Sem sombra de dúvidas, o livro O quinze, de Rachel de Queiroz é repleto de perdas para suas personagens, mas de muitos ganhos para a autora, que foi longamente elogiada por grandes nomes da época após sua publicação. 
    O quinze tem esse título por causa da seca que abalou o Nordeste brasileiro no ano de 1915. As população da região se viu arrasada pelas mortes dos animais, a falta de comida e de água e pelo desemprego. Rachel de Queiroz nos apresenta três núcleos de personagens que se entrelaçam, mas têm desenvolvimentos bem diferentes. 
    Primeiro, conhecemos Conceição, uma jovem e progressista professora que sonha ser mãe, contudo, não vê o casamento com bons olhos... ela é o interesse amoroso de seu primo, Vicente, um jovem rústico e trabalhador que preferiu dedicar sua vida à fazenda dos pais, do que estudar e viver na capital como a prima. Por fim, acompanhamos a dura trajetória do vaqueiro Chico Bento e de sua família. Ao contrário dos outros dois, estes não têm condições financeiras de sobreviver à seca, por isso decidem partir, contudo, em seu caminho eles encontram tanta tristeza e miséria que terão muito mais arrependimentos do que esperança. 
    Em suma, O quinze é uma narrativa bem característica do Regionalismo brasileiro, pois traz os dramas das pessoas pobres de forma bem realista, crítica e objetiva. É um romance de denúncia, sem ser panfletário. Tal como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz também possui um estilo conciso, duro e cortante. Nenhuma palavra é usada como mera decoração, todas as frases são carregadas de sentido e suas personagens demonstram bem os tipos sociais que marcaram o início do século XX no país. 
    Por causa da variação linguística específica da década de 1930, entretanto, um leitor menos preparado pode ter um pouco de dificuldade de realizar a leitura de O quinze, pois muitas palavras caíram em desuso e ter um dicionário à mão talvez seja necessário. 
    Chegamos à conclusão de que O quinze, de Rachel de Queiroz é uma narrativa curta e simples, porém, cheia de reflexões sobre a dura sorte das pessoas pobres e de como somos completamente marginalizados e vistos como meros joguetes nas mãos de quem tem poder.  

7 de agosto de 2025
A Garota da Terra do Vento - Crônicas do Mundo Emerso vol.1

 Olá, pessoas! Samu aqui!



Pense numa personagem braba, daquelas que bate primeiro e pergunta depois. Agora coloque essa personagem em um mundo mágico, para protagonizar uma história cheia de ação, aventura, romances não correspondidos e tudo o mais. Pois essa é Nihal, a jovenzinha que acompanhamos em A Garota da Terra do Vento, primeiro livro da trilogia Crônicas do Mundo Emerso.


Nihal é uma menina de treze anos que vive na cidade de Salazar na Terra do Vento, a região mais a oeste do continente. Mora com seu pai Livon, o melhor ferreiro da região. Sendo assim, ela cresceu com as crianças de Salazar, um grupo de meninos que adora brincar de guerra. Ela, logicamente, era sempre a comandante do exército de crianças. Tais brincadeiras vão influenciá-la a ter um sonho: tornar-se uma guerreira!


Com o passar do tempo ela vai descobrir que existem mistérios sobre seu passado compartilhados apenas entre seu pai e uma certa feiticeira que vive na floresta. Mistérios que explicam o motivo de Nihal ter a aparência tão diferente: uma garota de cabelos azuis e orelhas pontudas. Além disso, a jovem aspirante a soldado também vai descobrir o que é ter um sonho que vai contra a cultura machista de uma sociedade. Mas, por outro lado, no decorrer de suas aventuras, enfrentará muitos desafios para alcançar seus objetivos, além de perceber que a guerra não é aquilo que ela fantasiava.


A narrativa desse livro é espetacular! A autora Licia Troisi (nascida em Roma, Itália) tem uma escrita muito equilibrada. Os diálogos vêm no momento certo, sempre contribuindo com o desenrolar da história em vez de só "encher linguiça", como ocorre em outros livros do gênero fantasia (cof cof, ACOTAR, cof cof). Além disso, as descrições também são muito bem dosadas, ou seja, você não vai dormir nesse livro. As ações dos personagens condizem com suas respectivas personalidades e, mesmo quando a protagonista toma as atitudes erradas, a gente compreende seus motivos. Enfim, esse livro me surpreendeu bastante, sendo um dos melhores que li em 2020.


Minha única ressalva é a capa da versão brasileira que, meu Deus do céu… que tragédia! Não entendo o porquê de terem escolhido uma ilustração tão feia, com uma cor tão horrível para a fonte do título. Fora que a capa original, da edição italiana (usada nesse post), é super linda e deveria ser o parâmetro.


Realmente não sei o motivo dessa falta de tato da editora. Mas em todo caso, se você relevar a capa feia, tenho certeza que também se apaixonará pela história de Nihal, A Garota da Terra do Vento, e será tragado(a) para dentro das Crônicas do Mundo Emerso assim como eu fui. Livro mais que recomendado!


5 de agosto de 2025
AS BRUMAS DE AVALON - LIVRO 2

 A grande rainha



      Finalmente, após muitos anos, consegui reler do início ao fim A grande rainha, segundo volume da série As brumas de Avalon, da autora Marion Zimmer Bradley, e foi difícil acompanhar os pensamentos de Guinevere, mas a narrativa é maior do que isso, então, vamos nessa! 
      A grande rainha começa alguns meses após o término de A senhora da magia. Refugiada na corte de Lot, Morgana espera o nascimento de seu filho indesejado, fruto de seu incesto com Arthur. Lot, contudo, não vê o nascimento dessa criança como algo bom para seus filhos, porém, Morgause descobre o segredo da sobrinha e decide por "tirar" o filha dela para usá-lo contra Arthur posteriormente. 
    Enquanto isso, infelizmente, conhecemos melhor Guinevere, filha do rei Leondegranz, que oferece a Arthur os recursos decisivos para que este vença a guerra contra os saxões, desde que o jovem rei case com sua filha. Assim, dada como uma égua a quem pagar mais, a bela donzela torna-se A grande rainha para desespero do Merlim e de Igraine, pois ambos já perceberam a paixão crescente entre ela e Lancelote...
    Após o nascimento do filho, Morgana parte para o casamento do irmão e torna-se dama de companhia da rainha. Aqui, Marion Zimmer Bradley cria uma enorme tensão entre ambas, tornando-as inimigas veladas, tudo por causa de um homem! O problema nem são as diferenças religiosas, mas sim o fato de ambas serem apaixonadas por Lancelote e este claramente preferir Guinevere ao invés de Morgana. 
    Durante seu período na corte, Morgana percebe o quão crescente tem se tornado a ascensão do Cristianismo, fomentado por Guinevere, que torna-se cada vez mais "religiosa" por não conseguir engravidar do marido.
    Após sofrer uma rejeição de Lancelote, nossa protagonista decide voltar à Avalon, mas fica perdida no País das Fadas durante cinco anos. Nesse período, Igraine morre, Arthur rompe com a antiga religião, tornando-se um rei cristão e o descaramento e a hipocrisia de Guinevere só aumentam. 
    Sinceramente, A grande rainha é um livro difícil. Não por sua narração, o modo como Marion Zimmer Bradley cria suas personagens e situações é bem interessante, porém, a discussão religiosa é insuportável! É horrível ler todo o preconceito religioso de Guinevere e, ainda pior, perceber como ela tem todos em suas mãos apenas por ser linda, recatada e "religiosa", enquanto Morgana, uma mulher instruída, mas considerada menos bonita não tem vez na corte. 
    Como dito antes, A grande rainha é uma leitura desafiadora e necessária se o seu objetivo, como o meu, é ler As brumas de Avalon por completo, mas prepare-se para passar raiva, principalmente se você for pagão. 

31 de julho de 2025
Amor em 10 sobremesas, de Jess Almeida


Oi, pessoal! Samu aqui pra indicar mais um livro pra vocês😄



Aqui está o romance açucarado e crocante que eu estive procurando desde o início do ano! Esse livro tem um gostinho hipnotizante de sobremesas recém saídas do forno (e olha que eu li no Kindle). Apesar de ser curto, Amor em 10 sobremesas, da autora Jess Almeida, conta uma história marcante, não por haver grandes plot twists e situações mirabolantes, mas sim devido a sua capacidade de deixar nosso coração quentinho a cada página e provocar umas boas risadas.


A maior parte da história acontece no Café & Lilases, um café com decoração super aconchegante. A placa na parede adverte "Não possuímos Wi-Fi, pratiquem a antiga arte da conversação". Rae é a dona do lugar (nossa protagonista) e ela gerencia a loja com a ajuda de Finn, seu melhor amigo.


Tudo começa quando, certo dia, um novo cliente aparece na loja. O homem tem um ar soberano em seu terno impecável. Ele é Adam Fisher, e pede apenas um café preto, sem açúcar. Adam recusa qualquer sugestão de doces que Rae faça. Sendo assim, a jovem mulher fica intrigada: ela não aceita que aquele homem misterioso simplesmente deteste doces.


Portanto, a partir daí, Rae decide que vai testar novas receitas a cada dia, afim de descobrir qual é a sobremesa que aquele cliente gosta. E, para tanto, ela recorre ao antigo livro de receitas da mãe (um item lendário da família). Daí pra frente nós vamos acompanhando, capítulo a capítulo, as tentativas de Rae até encontrar uma sobremesa que satisfaça o paladar peculiar do Sr. Fisher.


Também vamos descobrindo mais detalhes do passado desses personagens na medida em que a história se desenrola, outro ponto que faz esse livro ser muito bom. Particularmente, eu gostei bastante das descrições de cada receita. Bem, eu amo doces, então fiquei com água na boca a cada novo capítulo. Inclusive, outro detalhe que adorei foi a ideia da autora de ter disponibilizado para nós todas as receitas em um apêndice do livro!


Portanto, se você também ama doces e uma boa história de amor, Amor em 10 sobremesas com certeza é para você.

29 de julho de 2025
[EU ASSISTI] MEMÓRIAS DE IDHÚN


     A Espanha tem se mostrado, nos últimos anos, muito competente no quesito entretenimento em suas parcerias com a Netflix. La Casa de Papel, As telefonistas, e Elite são alguns exemplos disso, mas em 2020, a animação Memórias de Idhún entrou no catálogo do streaming e parece que não fez muito alarde não... Por aqui, como gostamos de fantasia, decidimos dar uma chance e, é claro, foi amor à primeira vista! 
    Memórias de Idhún começa de forma frenética nos apresentando a um de nossos protagonistas, Jack, perdendo os pais e quase sendo assassinado também pelo vilão, Kirtash. Contudo, o jovem é salvo por dois homens misteriosos: o príncipe Alsan e o mago Shail. Eles o levam a uma outra dimensão, uma espécie de santuário onde Jack conhece também, Victória, e descobre suas verdadeiras origens. 
   Idhún é um planeta em uma dimensão paralela à Terra, na qual a magia existe. Infelizmente, porém, magos e semimagos nunca foram muito bem vistos por lá e sempre tiveram de fugir, eventualmente. Há três anos, um tirano dominou o planeta e incumbiu a seu filho, Kirtash, a missão de encontrar as últimas duas fontes de magia de Idhún enviadas para a Terra: um unicórnio e um dragão. No meio do caminho, ele também deve matar os refugiados que encontrar. É assim que os caminhos de Jack, Victória, Alsan, Shail e Kirtash se cruzam, com este último tentando eliminá-los, mas curiosamente, de forma bem inesperada, ele se apaixona por Victória, o que, óbvio, complica toda a missão... 
    Memórias de Idhún tem apenas 10 episódios divididos em duas temporadas. A animação é bem interessante e nos apresenta uma história que, apesar de seguir os clichês da jornada do herói e ter um triângulo amoroso entre adolescentes, instiga nossa curiosidade em saber mais sobre Idhún e seus habitantes. Mesmo não sendo inovadora, a Netflix acertou ao trazer memórias de Idhún para o seu catálogo, mas, como não poderia deixar de ser em se tratando desse streaming, não há notícias de uma terceira temporada... o que é uma grande sacanagem! E nenhum dos livros que originaram a animação foi publicado aqui no Brasil, ou seja, essa é uma indicação perigosa... Pois se você gostar, vai ficar sofrendo como eu. 

22 de julho de 2025
AS BRUMAS DE AVALON - LIVRO 1

 A senhora da magia



    Após nove anos... desde a publicação do post no qual decidi ler todos os livros antecessores à As Brumas de Avalon, finalmente, iniciei a leitura da saga que consagrou Marion Zimmer Bradley e ditou tendências na cultura pop. A senhora da magia, nosso primeiro romance, já começa de forma arrebatadora e muito nostálgica para mim, pois o li pela primeira vez na adolescência. 
Nesse volume, a narrativa inicia com a fala de Morgana, já madura e conhecedora do triste fim daqueles que amou. Logo depois, a história passa a ser narrada em 3ª pessoa, nos transportando para um período anterior à Idade Média. 
    No crepúsculo das religiões pagãs, a senhora governante da ilha mística de Avalon, auxiliada pelo Merlim, líder dos druidas, decide lutar com todas as suas forças contra a destruição de sua cultura e tradições. Mas, para isso, ela, Viviane, passará por cima de vários membros de sua família, não se importando em despedaçar seus corações em prol do "bem maior". Esta é  A senhora da magia
    Assim, vemos toda a trama se desenrolar para que Igraine, uma das irmãs mais novas de Viviane, casada com o duque da Cornualha e mãe de Morgana, tenha um filho de Uther Pendragon, o favorito ao posto de "grande rei". Igraine, contudo, não concorda em tornar-se um mero joguete e reluta muito em aceitar o plano. Os "desígnios da Deusa", porém, são misteriosos e os planos de Viviane se concretizam. 
    Por ter muitos inimigos, Uther decide deixar seu herdeiro, o pequeno Arthur, aos cuidados de um vassalo de confiança, enquanto Morgana é mandada para Avalon, a fim de tornar-se herdeira de Viviane. Esse seria o enlace perfeito: Arthur como o grande rei, tendo o sangue dos antigos e Morgana como A senhora da magia. A grande questão aqui é saber se tudo isso é mesmo a vontade da grande Deusa, ou de Viviane. 
    Vemos o início da narrativa focar-se em Igraine para, posteriormente, acompanhar Morgana, mostrando seus pensamentos, sentimentos e rotina na ilha mágica de Avalon. A relação da jovem com sua tia floresce tendo sempre uma leve sombra de rancor ou mesmo incompreensão que serão brutalmente inflamados após a concretização do plano de Viviane. 


    Descobrimos que, na verdade, A senhora da magia queria uma nova geração, uma nova criança com o sangue real de Avalon, por parte dos dois pais... para isso ela induz Arthur e Morgana a cometerem incesto sem terem conhecimento disso, algo bem traumatizante para ambos. Viviane age de forma calculada, quase como se estivesse em um jogo de xadrez, embora, seus movimentos tenham resultados inesperados e nada agradáveis....
    Além disso A senhora da magia, nos mostra um panorama político da Bretanha da época entremeado à fantasia. Vemos como os romanos, cristãos, saxões e outros invasores arrasaram essas ilhas tentando sempre aculturar e subjugar o povo nativo. Para Viviane, os piores deles são os cristãos, pois estes cercearam completamente a liberdade e o poder do sagrado feminino, reduzindo-o a algo sujo, profano e pecaminoso. 
    É muito revoltante ver como as mulheres apesar de fortes e bem resolvidas são sempre questionadas e delegadas a uma posição de louca ou feiticeira, Deusa não mais... Se você se interessa pelo Ciclo Arthuriano, pelo Sagrado Feminino e pelo ponto de vista das mulheres que moldaram essa história com suas escolhas e ações, com certeza, lerá A senhora da magia tão rápido e de forma tão ávisa quando eu fiz nessa releitura. 

16 de julho de 2025
Fúria Vermelha - Pierce Brown

 Olá, pessoal! Samu aqui!



Hoje o assunto é o primeiro volume da trilogia Fúria Vermelha, uma história que mistura os gêneros distopia e ficção científica. Escrito em 2014, o autor Pierce Brown desenvolveu uma história daquelas bem frenéticas que deixam a gente de cabelo em pé, ofegante, roendo as unhas e tudo mais! Em todo caso, não considero um livro excepcional, pois os maiores méritos dele estão no recurso do plot twist (calma que já explico, vamos ver do que se trata primeiro).


Esta história é narrada pelo personagem Darrow, um menino de 16 anos com um aperto de mão dos mais brabos que a literatura já viu. Através do ponto de vista dele, nós somos levados a conhecer um futuro distópico onde a humanidade está ameaçada de extinção, pois os recursos do planeta Terra estão acabando devido à superlotação. Sendo assim, para evitar que nossa espécie feneça, uma casta inteira de pessoas foi enviada para colonizar o planeta Marte (sim, esse livro se passa inteiro no planeta vermelho, o que a meu ver é bem original). A missão dessa galera é minerar o solo de Marte a fim de encontrar um minério especial, essencial para a salvação da humanidade.


Deste modo, Darrow (nosso protagonista) é um descendente dessa casta de mineradores, conhecidos como Vermelhos. Nesse ponto eu vou abrir um parênteses para explicar por cima como funciona a Sociedade: nessa história futurista/pós-democracia os seres humanos são divididos em castas por cores, ou seja, existem os Azuis, os Vermelhos, os Verdes e assim por diante. Cada cor fica responsável por um tipo de trabalho que viabiliza a ordem da Sociedade. Dentre esses grupos, existem os Dourados, a casta mais importante, destinada a governar todas as outras e, teoricamente, zelar pelo bem-estar delas.


Mas esse é só o pano de fundo da narrativa. O livro Fúria Vermelha (que é o volume 1) é dividido em quatro partes, sendo a primeira uma introdução que lança os fatos iniciais para desencadear as motivações do Darrow. Acontece que ele não tem nenhuma grande ambição além de querer o bem-estar de sua família e de sua esposa Eo (sim, na casta dos Vermelhos colonizadores de Marte uma pessoa com 16 anos já é considerada adulta, trabalham e se casam).


Contudo, Eo possui convicções revolucionárias: ela acredita em um ideal de Sociedade em que os Vermelhos possam ter mais liberdade (pois eles vivem em colônias subterrâneas trabalhando sem descanso, como em uma espécie de semiescravidão). Sendo assim, após uma grande tragédia, esse ideal da Eo vai acabar impulsionando Darrow a fazer contato com um grupo secreto conhecido como os Filhos de Ares (esse livro tem algumas referências à mitologia grega), e juntos vão elaborar um plano para destruir a Sociedade como ela é.



Tem um ponto nessa narrativa que me deixou meio decepcionado, mas para comentar sobre ele vou ter que dar uns spoilers, então, se você não quiser saber, pode pular para o próximo parágrafo desta resenha. O tal plano dos Filhos de Ares é justamente matricular o Darrow em uma “escola” dos Dourados, para que ele seja “educado” como um membro da casta dominante e assim ter condições para destruir a Sociedade “por dentro”. No entanto, essa “escola” se torna uma prova de sobrevivência no melhor estilo Jogos Vorazes, ou seja, os “alunos” devem lutar entre si, escravizando (ou até matando) uns aos outros para serem vitoriosos. E isso dura uns 80% do livro, o que gera no leitor uma sensação de “ué? mas cadê aquela narrativa revolucionária que o autor demorou tanto para construir na primeira parte da história?”, e pra mim isso foi um baita ponto negativo (apesar de ser um Jogos Vorazes bem empolgante e sangrento). FIM DO SPOILER.


Em todo caso, eu achei uma história bem legal, daquelas eletrizantes que você não consegue parar de ler. Mas isso acontece por causa do recurso do plot twist que é usado à exaustão. Ou seja, quase todo capítulo tem uma reviravolta gigante que te faz soltar um “eita!” e logo depois uma “oxe!” e assim por diante. O problema disso é que, bom… uma releitura seria bem menos impactante, afinal, já sabemos o que vai acontecer. Mas ainda assim eu recomendo Fúria Vermelha, se você gosta de livros com fortes emoções e cenas de violência bem gráfica.