4 de novembro de 2025
DOZE ANOS DE ESCRAVIDÃO

 



    Em 1853, foi publicado um dos relatos que talvez tenha, juntamente com A cabana de pai Tomás (1852), contribuído para fomentar a Guerra Civil Norte-Americana. Esse texto, escrito por Solomon Northup, retrata como ele foi sequestrado e brutalmente submetido à Doze anos de escravidão.
    Em 2014, na 86ª edição do Oscar, a adaptação de Doze anos de escravidão brilhava com nove indicações à estatueta. Apesar de não assistir a muitos filmes e preferir a leitura, gosto de acompanhar essa premiação e fiquei bastante interessada pela história do longa e do livro. 
    Como sempre,  eu já tinha outras leituras em minha lista e fui protelando a de Doze anos de escravidão, até porque imaginava que seu conteúdo seria chocante e eu estava certa! Solomon Northup era um homem negro nascido no estado "livre" de Nova Iorque; tinha uma vida modesta e digna ao lado de sua esposa e filhos, tocava violino nas horas vagas e era muito querido em sua comunidade, contudo, aos 33 anos, enganado por dois homens com uma falsa proposta de trabalho como músico, Solomon Northup é sequestrado, torturado e obrigado a aceitar o nome de "Platt", assumindo a identidade de um escravizado fugitivo, sendo levado para o estado da Louisiana e lá tendo de sobreviver aos Doze anos de escravidão que lhe serão impostos. 
  Nos primeiros dois anos, Solomon Northup passa por dois "senhores", o primeiro, Ford, era um homem supostamente "gentil" e "bondoso", mas os espancamentos de outrora impedem o protagonista de revelar sua real condição por medo de ser castigado novamente; o segundo, Tibeats, era uma criatura desprezível e chegou a tentar matar nosso narrador-protagonista duas vezes; mas ele descobriu a fundo os horrores da escravidão, em sua forma mais abjeta, na fazenda de Epps, seu terceiro e último "senhor". 
   Sem sombra de dúvidas, Solomon Northup queria mostrar com sua narrativa a veracidade dos acontecimentos, fazendo um verdadeiro alerta às autoridades quanto ao sequestro de pessoas negras do Norte e sua subsequente escravização no Sul. As descrições são sucintas e certeiras. Ele nos mostra de forma clara os horrores aos quais os escravizados eram obrigados a conviver: as incessantes e exaustivas horas de trabalho nas lavouras de algodão ou de cana-de-açúcar, os diversos e mais cruéis abusos físicos, psicológicos e sexuais infligidos repetidamente, tudo isso descrito em um estilo fluido e bem estruturado. 
    Mesmo assim, a leitura de Doze anos de escravidão, como já imaginava, não é nada fácil, pois trata-se de uma obra preenchida pela crueldade humana, nos deixando horrorizados e reflexivos sobre quem nós fomos e quem somos enquanto sociedade. Este é um livro pungente e muito bem escrito que retrata sem rodeios a podridão do sistema escravocrata.




31 de outubro de 2025
NOSFERATU, DE JOE HILL



    O Natal é uma das épocas do ano mais aguardadas pelas crianças. É nesse dia que elas deveriam ganhar presentes, comerem bem, ficarem acordadas até tarde e terem momentos agradáveis com a família. Joe Hill, no entanto, subverte e, na verdade, perverte tudo isso em Nosferatu. Aqui, seria melhor que o natal não existisse...
    O livro começa mostrando-nos o assassino condenado, Charles Manx, esse é o Nosferatu, em coma, em um hospital penitenciário. Ele está lá há mais de dez anos, contudo, existe algo nele que amedronta as enfermeiras, principalmente, aquelas que têm filhos pequenos. .
    A narrativa dá um salto para o passado e vai para o final dos anos 1980 e início dos 90, onde conhecemos Victória McQueen, também conhecida como Pirralha que, ao ganhar de presente dos pais uma bicicleta nova, vê sua vida mudar, ou melhor, desmoronar completamente. 
    Joe Hill, como acontece em A estrada da noite, traz, novamente, o conceito de pessoas singulares cujos "poderes" estão relacionados a caminhos/portais. Vic consegue, ao pedalar sua bicicleta, ir a qualquer lugar e encontrar algo perdido. Seus problemas de verdade começam, quando, na adolescência, após o divórcio caótico dos pais, ela decide pedalar em busca de problemas... Pois ela encontra Charles Manx, o Nosferatu. Pelo título da narrativa, as características do vilão e a forma como Vic encontra uma de suas vítimas, já é possível traçar o modus operandi dele e seus objetivos. Joe Hill traz uma complexidade grande a seus personagens, não sendo nem um pouco maniqueísta em suas descrições. 
    A pirralha tem seu primeiro confronto com o Nosferatu e sai vitoriosa: ele é preso e condenado à prisão perpétua, entretanto, algo quebrou dentro dela e, na vida adulta, casada e com um filho, ela está perdida e desequilibrada. Vic começa a receber telefonemas das crianças raptadas por Manx e levadas para a "Terra do Natal", elas a acusam de tê-lo roubado delas. A jovem perde a cabeça por isso e causa um incêndio em sua casa, é diagnosticada com esquizofrenia e pouco a pouco vai afastando seu marido e filho. 
    Após a morte de sua mãe, porém, Vic decide passar mais tenho com o filho, aluga uma casa de campo para passarem o verão e começa a consertar uma moto. Infelizmente, Manx desperta de seu coma, foge e vai atrás dela em busca de vingança: ele levará o filho dela para a "Terra do Natal". A partir daí, inicia-se a busca frenética de Vic para salvar seu menino e destruir Mnx e seu carro amaldiçoado. 
     Nosferatu está bem longe de ser uma leitura leve ou fluída, Joe Hill começa a narrativa bem e a termina de modo eletrizante, contudo, o "meio" é um pouco arrastado; ademais, a protagonista sofre tanto até metade do livro que a outra metade torna-se bem pessimista, porque a gente sabe que ela vai sofrer ainda mais... 
    Se você gosta do Natal, essa obra não é recomendada para você. O vilão usa dessa festividade e de seus elementos para destruir vidas. É tudo muito pesado e violento. Minha conclusão: Nosferatu é muito bem escrito, mas não pretendo relê-lo nunca mais na minha vida. 






28 de outubro de 2025
O CORVO

 



    Quando eu falo que sou marcha lenta, o povo acha que é história, mas eu sou mesmo e tenho como provar: em 2018 a editora DarkSide lançou O corvo, hq escrita e ilustrada por James O'Barr. Comprei meu exemplar em 2019 e o li no ano passado e vou publicar a resenha por aqui hoje. Hahaha Essa é única risadinha que darei nesse post, porque a história de hoje é pesada e muito triste.
    Acontece que há anos quero ler O corvo, o problema é que eu sempre protelava essa leitura porque sabia que ela me impactaria e me deixaria um pouco arrasada e eu estava certa. A trama desenvolvida por James O'Barr é violenta, trágica e nem um pouco bonita (por causa do tema e porque os traços dele são bem estranhos e muito carregados de nanquim).  
    Caso você não saiba, James O'Barr passou por um trauma muito grande que o fez, para expurgar toda a dor e culpa, iniciar a criação de O corvo: a então namorada dele da época, a qual ele chama de "a garota que era Shelly" sofre um acidente de carro e morre na hora, ela havia saído para resolver um problema de James, logo, ele se sentiu culpado pela morte dela durante muitos anos. Isso é bem tangível em toda a obra, a dor, o sofrimento, a culpa, o sentimento de raiva e revolta. 
    Em O corvo acompanhamos a história de vingança de Eric, um rapaz que vivia com sua noiva em uma das cidades mais perigosas dos Estados Unidos. Uma noite, quando o motor do carro deles para de funcionar, o casal é abordado por uma gangue, são roubados, atiram em Eric a queima roupa e sua noiva, Shelly, é brutalmente violentada e assassinada, é uma cena horrível de se ver. 
    É a partir daí, com a ajuda de uma entidade sobrenatural que assume a forma de um corvo, que Eric irá traçar seu plano de vingança: ele matará todos os envolvidos no assassinato violento de sua amada para só assim poder descansar em paz ao lado dela. E, no meio do caminho, ele também ajudará uma garotinha. 
    A leitura de O corvo até seria rápida, afinal, é uma hq, só que a temática e as cenas violentas te obrigam a parar um pouco, fazer outra coisa, ler algo mais leve e depois voltar. Falei antes sobre o traço esquisito de James O'Barr, mas é notável como ele o suaviza e torna mais equilibrado quando Eric relembra os bons momentos com Shelly, tornando-os belos e oníricos e a realidade ainda mais perturbadora. 
    Gostei de O corvo, pretendo reler essa obra? Jamais. As impressões que ela me deixou serão difíceis de apagar, logo, não pretendo passar por isso de novo. Não estou aqui criticando negativamente o trabalho de James O'Barr, muito pelo contrário! A obra é tão verdadeira e pungente que eu simplesmente não conseguiria acompanhar o sofrimento de Eric e Shelly mais uma vez.

24 de outubro de 2025
O FANTASMA DA ÓPERA



Até esse ano, meu único contato com O Fantasma da Ópera foi através do filme homônimo de 2004. Na época, lembro de ter gostado da adaptação principalmente por causa da atriz Emmy Rossum, a qual eu conhecia pela série Shameless, que eu adorava. Muito tempo passou e acabei comprando a belíssima edição da Editora Pandorga, fiquei muito encantada por ela e resolvi fazer essa leitura, que, infelizmente, não foi tão encantadora quanto seu projeto gráfico… 

Gaston Leroux foi um jornalista e romancista muito famoso em sua época e ele, tal como muitas outras pessoas, ficava intrigado com os diversos acidentes misteriosos ocorridos na opulenta Ópera Garnier e em suas galerias e lagos subterrâneos. Unindo o útil ao agradável, ele publica, então, em 1909, O Fantasma da Ópera, um romance que deve ter sido fascinante, mas não envelheceu nem um pouco bem.

Em O Fantasma da Ópera, acompanhamos, através do próprio Gaston Leroux, como narrador observador, na forma de uma “reportagem”, o misterioso caso do desaparecimento da soprano Christine Daaé e algumas mortes inexplicáveis que ocorreram na mesma noite. 

O narrador começa nos mostrando que os diretores anteriores da ópera se aposentaram e novos assumiram seu lugar, contudo, eles só sabiam sobre a existência de uma figura excêntrica: O Fantasma da Ópera, alguém que domina verdadeiramente o local; todos o temiam e, inclusive, os diretores anteriores lhe pagavam um salário e reservavam-lhe um camarote inclusive para assistir a todas as apresentações, mas por que isso, você se pergunta?  Porque se não o fizessem o “fantasma”, conhecedor de todas as passagens secretas e subterrâneas do teatro, poderia sabotar as produções e causar acidentes fatais… Os novos diretores não acreditam nisso e muitos crimes acabam decorrendo dessa descrença… 

Depois de saber desse cenário, conhecemos nossa protagonista, Christine Daaé, uma jovem bailarina, aspirante a cantora que guarda um grande segredo: ela tem aulas de canto com uma figura misteriosa que ela chama de seu “Anjo da Música”, posteriormente, de forma bem ruim, ela descobre ser este O Fantasma da Ópera que, para piorar, fica completamente obcecado por ela. Além disso, em sua grande estreia como “prima donna”, a jovem reencontra um antigo amigo, o visconde Raoul de Chagny, o qual também é obcecado por ela e muito, muito ciumento e controlador. Enfim, Christine está presa a um triângulo amoroso terrível, até porque essas duas figuras masculinas opressoras vão se digladiar pelo “amor” da moça, ocasionando algumas tragédias. 

Como deixei transparecer desde o começo, não gostei nem um pouco de O Fantasma da Ópera. A narrativa de Leroux é bem enfadonha; Ele traz muitas descrições, para mim, desinteressantes, sobre a arquitetura da Ópera Garnier, sobre os “sentimentos” de Raoul por Christine, e toda a lenga-lenga dos novos diretores que não acreditam no fantasma. Foi muito pedante ler essa obra, gente, sério. A edição da Pandorga é linda, deslumbrante mesmo! As ilustrações, o projeto editorial, tudo é muito bonito, meu problema mesmo foi com a história que não me agradou em nada. O modo como o fantasma e Raoul tratam Christine é horrível. Ela é uma moça super talentosa, desimpedida, que poderia brilhar como cantora, mas é sempre lançada para trás por um dos dois. É ridículo. Tenho muita experiência com a leitura de clássicos e gosto muito da grande maioria daqueles que li, contudo, esse não me agradou em nada e não consigo recomendá-lo a ninguém.



21 de outubro de 2025
[EU ASSISTI] O HOMEM DE PALHA

 



Tìtulo original: The Wicker man
Ano: 1973
Direção: Robin Hardy
Roteiro: Anthony Shaffer 


    O homem de palha faz parte daquela categoria de filmes cults antigos que todo mundo recomenda e te dá muita vontade de assistir, mas, por algum motivo, você vai protelando, pelo menos comigo é sempre assim. 
    Pois bem, assisti a O homem de palha pela primeira vez, em 2021 e, depois disso, meus amigos e minhas amigas, reassisto quase todo ano! Sou completamente apaixonada por esse folk horror clássico, esse filme me surpreende e encanta toda vez. 
    Essa surpresa vem do fato de que, apesar de ser muito curiosa, não sou uma cinéfila, ainda assim, devido à tantas críticas positivas, dei uma chance a O homem de palha e qual não foi o meu espanto ao gostar muito da obra, principalmente, da trilha sonora ( a qual ouço sempre). Falando nisso, as músicas aqui contam histórias e ajudam a complementar a mitologia que envolve o longa, além de aumentar a aura de suspense que paira no ar. Sério. Procurem por essa trilha sonora no Spotfy, as músicas são lindas demais! 
    O homem de palha, a despeito de seu, para muitos, controverso final, é um filme alegre e animado. A população de Summerisle está às vésperas do Dia de Maio, celebração que marca o início do verão, tempo de otimismo e diversão. Logo, a chegada de um policial sisudo vindo do continente com suas próprias crenças e preconceitos cristãos, não consegue apagar o "fogo", nem a animação dessas pessoas.
    A estrutura narrativa de O homem de palha é bem simples: acompanhamos um policial cristão fervoroso que viaja sozinho até uma distante ilha, no território escocês, para investigar o suposto desaparecimento de uma menina moradora local. Lá, ele inicia sua investigação e percebe estar sendo ludibriado pela população. Seus costumes pagãos também não ajudam em nada, apenas o deixam mais confuso, revoltado e furioso. 
    É possível ver O homem de palha como uma alegoria? Talvez sim, afinal, a religião do protagonista fala muito de sacrifício e, no final, há realmente um e quem melhor do que um cristão convicto para ofertá-lo? Eu sei que esse filme é do gênero folk horror, mas sempre me divirto quando o assisto! E vocês? Já conheciam esse longa? Se conhecerem outros filmes do gênero, me indiquem nos comentários! Midsommar eu já assisti, e esse é outro que mora no meu coração. 

17 de outubro de 2025
MORDIDA

 



    Há alguns anos, uma outrora amiga me falou sobre o livro Mordida, que, na época, ainda não tinha sido publicado aqui no Brasil. Por ser grande fã das tirinhas de Sarah Andersen, esperei ansiosamente pelo lançamento e, ao vê-lo na livraria, não resisti e comprei, mas deveria ter esperado um pouco mais....
    Acho que vou ser polêmica agora, mas lá vai: paguei R$ 79,90 em Mordida. Não me arrependi de adquiri-lo, contudo, penso que seria melhor tê-lo comprado depois, pois terminei a leitura em exatas duas horas. E sim, eu sei que essa obra foi lançada em 2021, porém, fiz a primeira leitura em 2022 e estou publicando a resenha só agora por motivo do hiatus do blog. 


    Conhecendo o trabalho de Sarah Andersen, não sei por que esperei que Mordida fosse um romance ou uma graphic novel. Acho que o modo como a outrora amiga falou da história me fez criar essas expectativas e, bem, quebrei a cara...
    Mordida tem como protagonista a vampira Elsie que começou um relacionamento com o lobisomem Jimmy. Ao longo de 106 páginas, acompanhamos a rotina romântica e um pouco macabra do casal, tudo com o traço lindo e charmoso de Sarah Andersen. Além disso, as tiras são marcadas pelo humor ácido característico da autora e umas boas pitadas de subcultura gótica que nós por aqui tanto amamos! 


    A editora Seguinte está de parabéns pelo projeto. O livro tem capa dura e um acabamento em tecido que ressalta ainda mais a arte de Sarah Andersen e dá um ar mais clássico e chic para a edição. Sinceramente, gostei de Mordida, mas seria muito mais legal acompanhar a história de Elsie se ela tivesse um desenvolvimento maior. 






14 de outubro de 2025
MALUCOS E MALDIÇÃO




Ainda num clima Dia das Crianças/Halloween vou apresentar para vocês hoje Malucos e Maldição, um livro escrito por Marcus Sedgwick que, diferente de Um conto sombrio dos Grimm, é uma obra infanto-juvenil que dificilmente vai agradar a todos os públicos, sendo mais indicada para crianças mesmo. 
A história de Malucos e Maldição começa nos apresentando ao corvo Edgar, que vive no Castelo Outramão juntamente à família homônima, composta por Lorde Outramão, um "inventor", sua esposa Menta e seus quatro filhos: a adolescente Solstícia, o menino Maltinho e dois gêmeos cujos nomes não me lembro. Eles vivem num estilo que tenta emular a Família Addams, só que não convence. Isso porque por mais "estranhos" e "peculiares" que os Addams sejam, eles se amam, principalmente os pais, agora, Lorde e Lady Outramão não parecem se importar muito com seus filhos, nem com eles mesmos, o que não nos faz simpatizar muito com o casal.
Após um incidente, o pai da família decide contratar um professor particular para ensinar seus filhos. Essa decisão desencadeará uma série de acontecimentos mórbidos e sinistros sem explicação, como, por exemplo, a morte de 8 empregados da casa... 
Infelizmente, a narrativa não me interessou, a escrita de Marcus Sedgwick não despertou minha curiosidade pelo enredo e acabei lendo Malucos e Maldição só mesmo porque estava na minha meta de leitura. Não recomendo para adultos, pois é tudo muito bobinho e previsível e, se você foi criança nos anos 90 e assistia aos filmes da Família Addams, o desinteresse será ainda maior, mas, talvez, as suas crianças gostem dessa experiência de leitura.