Desde o ano passado, meu interesse por magia e bruxaria tem aumentado bastante. Além de livros teóricos que adquirimos e estamos lendo aos poucos, também estou lendo romances sobre o assunto e um dos mais interessantes de todos até agora é Eu, Tituba Bruxa negra de Salém, da autora Maryse Condé. Detalhe: quero ler tudo o que essa mulher maravilhosa já escreveu!
Com certeza, em algum momento de sua vida, você ouviu falar a respeito de As bruxas de Salém. Episódio de histeria coletiva ocorrido na aldeia homônima, em 1692, o qual resultou em 19 pessoas condenadas por bruxaria. A única sobrevivente desse horror foi a primeira acusada, uma mulher caribenha escravizada, cujo nome era Tituba.
Em Eu, Tituba Bruxa negra de Salém, Maryse Condé nos brinda com uma narrativa poética e pungente, tentando preencher as lacunas a cerca da vida pregressa de Tituba e o que houve com ela depois de Salém. Isso porque por tratar-se de uma mulher negra escravizada, ninguém se importou em registrar sua história, origem e paradeiro. Aqui entra a magistral pesquisa e criatividade de Maryse Condé ao criar uma narrativa coesa e quase factual sobre a vida dessa mulher.
Eu, Tituba Bruxa negra de Salém já começa com um soco no estômago: a concepção da personagem acontece através de um abuso que sua mãe, Abena, uma jovem princesa do povo Axanti, sofreu durante a viagem da África até Barbados, onde seria escrava de um fazendeiro. Ao nascer, Tituba descobre um amargor na vida, pois sua mãe a rejeita e a menina a perde muito cedo de uma forma bem trágica e desoladora.
Aos sete anos, a jovem conhece uma bruxa nagô que lhe ensina tudo o que sabe sobre a natureza e o contato com os mortos ou "invisíveis". Mas este relacionamento também não dura muito tempo no plano físico, ficando Tituba apenas com a presença invisível de seus entes queridos para confortá-la e orientá-la em sua triste jornada de mulher negra escravizada.
Escravizada não apenas por sua cor ou condição de mulher, mas também por seu desejo. O desejo de ter consigo John Indien a faz cometer diversos erros que a levam a servir Samuel Parris na aldeia de Salém. Lá, indo contra todos os avisos dos invisíveis e até mesmo de seu imprudente marido, Tituba cria uma relação de amizade e carinho pela filha e pela esposa de Parris, sendo esta a sua ruína.
A partir desse ponto, Maryse Condé reconta "do ponto de vista de Tituba" os acontecimentos de Salém, mostrando-nos em detalhes todo o sofrimento que nossa protagonista poderia ter enfrentado durante sua prisão, tortura e absolvição. Como já era de se esperar, ela não será libertada, e sim escravizada novamente, até, por fim, retornar a Barbados e encontrar, mais uma vez, uma triste realidade...
Eu, Tituba Bruxa negra de Salém nos mostra a trajetória ficcional de uma personagem histórica que facilmente poderia ser verídica. Infelizmente, sua vida foi cheia de desventuras e muita tristeza. Ainda assim, por mais agridoce que seja seu desfecho, Maryse Condé nos dá uma gotinha de esperança em seu livro.
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