30 de março de 2019
Submissão,de Michel Houellebecq: um livro que divide opiniões

Capa do livro Submissão - Michel Houellebcq

Finalmente. Esta foi a primeira palavra que pensei após o término de Submissão, do autor Michel Houellebcq. Sem sombra de dúvidas, esta foi uma leitura muito cansativa e bem superestimada, motivos pelos quais demorei mais de um mês para completá-la.
Submissão traz em sua trama um "e se" peculiar, mas possível: "e se a França se tornasse um país muçulmano?" É a partir deste questionamento que tem início a história escrita por Michel Houellebcq.
François é o nosso protagonista e narrador, um acadêmico de meia-idade solitário, individualista e bem machista, chegando a ter um certo discurso misógino. Todo o enredo gira em torno dele e de suas impressões acerca dos acontecimentos, o que acaba empobrecendo a narrativa per se, pois não podemos de forma nenhuma confiar no que ele diz, além de seus pensamentos e reflexões serem bem tendenciosos e imprecisos.
Sabendo disso, você já deve ter entendido a frustração mostrada no começo desse texto. Isso porque há nesse futuro próximo (2022) uma situação política extrema e arriscada na França: Direita e Esquerda já fizeram muita coisa errada, por isso surge a Fraternidade Muçulmana com seu líder carismático, Mohammed Ben Abbes, para "salvar" a pátria e "melhorar" a vida das pessoas, contudo, isso não será feito de fato e mulheres e judeus serão os maiores prejudicados nesse novo sistema de governo e, infelizmente, NÓS NÃO VEMOS O PONTO DE VISTA DESTAS PESSOAS, essas informações chegam até nós por François, um homem branco, hétero, francês e elegível para tornar-se parte do novo "regime" sendo-lhe oferecida uma esposa adolescente e seu emprego de volta na universidade ganhando o dobro, ou seja, para ele, a opressão do governo muçulmano baseado na Sharia (leis islâmicas) não traz nenhum impacto negativo em sua vida, na verdade, até a "melhora". 
Ademais, outro ponto muito negativo em Submissão é a forma como François objetifica as mulheres. Ele sempre tem um comentário depreciativo sobre o gênero e fala muito, muito sobre sexo! O cara só pensa nisso o tempo todo! Parece que a vida dele gira em torno do sexo, o que é bem cansativo de ler, justamente, porque ele só procura as mulheres para isso. Quando ele não faz sexo com elas, as deprecia de alguma forma, ele sempre insinua que mulheres só servem para isso mesmo... Ou seja, é uma narrativa bem difícil de acompanhar...  
Enfim, embarquei nessa leitura com uma expectativa alta e acabei bem decepcionada. Não consigo recomendar esse livro. Acredito que quem se interessa por distopias, mais especificamente, as relacionadas a questões religiosas, talvez tenha uma experiência melhor com o Conto da Aia, ainda não o li, mas só vejo elogios, quanto a Submissão, melhor passar longe... 

Um comentário:

  1. Pois na distopia de Atwood só verá a visão da vítima do sistema, a mulher procriadora... gostei muito mas tem várias cenas chocantes, uma delas mexeu mesmo muito comigo.
    Em Submissão não podemos ver as coisas de uma forma simplista. Não são só visões que ficam de fora, as de dentro têm um valor simbólico. Temos uma esquerda progressista que luta em nome do humanismo contra uma moral conservadora e uma politicamente não defensora da igualdade de direitos e assistimos François (é só uma letra para não dizer Français os franceses) em nome desse humanismo, igualdade e liberdade unir-se a um projeto estranho que suavemente impõe uma agenda conservadora, desumana pela desigualdade que elimina a liberdade da grande maioria de um povo (a mulheres) e o nosso François amoral, progressista e quase libertário submete-se a esta moralidade conservadora sem liberdade. Não é preciso ouvir as voz das mulheres, a submissão dele mostra como a humanidade é capaz de trocar um mal por outro mal e aceitá-lo. É este o alerta e o risco que o escritor fala no país que tem como lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade e que criou o Estado Laico. Irónico quanto baste.

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