Caetés foi a primeira
publicação de Graciliano Ramos, membro do “panteão
sagrado de autores brasileiros”. É assim que eu chamo esse grupo
de escritores que somos obrigados a estudar no ensino médio e que
geralmente detestamos. Assim como você, eu também acho horríveis
as leituras obrigatórias. Portanto, sou adepto da leitura livre, de
deixar ler o que se quer ler. Essa é a premissa para que
adolescentes tomem gosto pela leitura, todos sabemos disso.
Enfim, voltemos ao Graciliano. Como
sabemos, ele iniciou sua carreira como jornalista, passando um tempo
no Rio de Janeiro. Logo depois, teve de voltar para sua terra natal,
o solo alagoano, devido a uma epidemia de peste negra que levou os
irmãos. Neste ponto, estabelece-se em Palmeira dos Índios, cidade
onde se torna prefeito por dois anos.
Dito isso, após todo este trajeto
de vida, Graciliano Ramos escreve, em 1933, seu primeiro
romance. Ou seja, até aqui nessa história nós ainda não temos o
Graciliano membro do panteão sagrado lá do início do texto. Aos 41
anos, este político jornalista vai adquirir a patente de escritor:
assim nasce Caetés.
Trata-se de um texto curto e muito
bem construído. Narrado em primeira pessoa, acompanhamos a
trajetória de João Valério, um protagonista medíocre. Empregado
há cinco anos no comércio de Adrião, João Valério julga-se
apaixonado por Luisa, a esposa do patrão. Portanto, esta é a trama
principal da história.
Particularmente, eu divido este
romance em duas partes. Na primeira, que vai até o capítulo
dezoito, Graciliano Ramos trata de construir o cotidiano das
personagens. Sendo assim, temos:
- Isidoro Pinheiro: Melhor amigo do protagonista João Valério. Age como conselheiro de João, alertando-o sempre que algum problema está para acontecer.
- Padre Atanásio: O religioso que pouco entende de religião. Atua muitas vezes como agente moralizador, contudo o que conhece da Bíblia vem do que os outros lhe dizem.
- Dr. Liberato: O médico que fala complicado e ninguém entende. Com certa frequência entra em discussões com o vigário por conta de suas ideias contrárias à religião.
- Clementina: Moça melancólica que sonha em se casar, no entanto nunca encontra um pretendente. Certo dia, em uma sessão kardecista, um espírito anuncia que ela finalmente se casará.
- Dr. Castro: Promotor corpulento que chega em Palmeira dos Índios e se torna noivo de Clementina. Contudo, o tempo passa e ele sempre adia o tal casamento.
Nessa primeira parte da história o
narrador João Valério fica o tempo todo tentando conquistar o
coração de Luisa e sofre diversas rejeições. Todavia, a situação
dos dois muda após o capítulo dezoito, devido a uma viagem que
Adrião, marido de Luisa, terá de realizar.
Na segunda parte da história,
Graciliano Ramos mantém o foco no romance entre João Valério
e Luisa. Após as insistentes investidas do protagonista, a mulher de
Adrião, tendo o marido longe, sucumbe ao adultério. Todavia, o
texto é escrito de tal forma que eu não a julgo uma “criminosa”
ou “pecadora”, por assim dizer.
De fato, o contexto dessa narrativa
é bem diferente de uma Capitu da vida. Um adendo: não estou
julgando a personagem de Machado de Assis, mas todos sabemos que
Capitu tinha olhos oblíquos e dissimulados. Já Luisa é nitidamente
uma mulher insegura, muitas vezes hesitante em suas atitudes para com
o amante.
A partir daqui, e ainda mais depois
do capítulo vinte e dois, ocorrerão uma sucessão de eventos que
mudarão o teor da história. Particularmente, achei-a mais
envolvente nesse final. E o desfecho me causou uma bela reflexão a
respeito da cobiça e da inveja. Não vou expor mais do enredo para
não estragar a leitura de quem tiver interesse nos Caetés,
em todo caso recomendo muito a leitura.
Por Samuel de Andrade
Esta é a segunda resenha que fazemos a respeito desse livro aqui no blog, caso queira ler a primeira, clique aqui.
Achei super interessante essa resenha, ainda não conhecia esse autor.
ResponderExcluirhttps://blogdajenny2014.blogspot.com/
Que bom! =)
ExcluirOi, tudo bem ?
ResponderExcluirAmei o post, pois a literatura brasileira é bastante rica e deve sim ser mais lida e ressaltada. Tem histórias intrigantes e ótimas dicas de leituras assim como Graciliano Ramos é um dos grandes nomes .
Concordo plenamente com você! Nossa literatura é incrível! =)
ExcluirOI Samuel, tudo bem?
ResponderExcluirNão conhecia a obra, mas as suas palavras já me conquistaram e me deixaram com vontade de realizar a leitura. Gosto dessa forma do leitor levar o enredo, é algo que realmente me agrada. Interessante saber que a Luisa é insegura, principalmente em relação ao marido, pois não é comum. Adorei o post!
Beijos!
O Samuel não pode responder porque está sem pc.
ExcluirFico muito feliz que tenha gostado da resenha dele! =)
Concordo muito com o que você disse de que a leitura obrigatória não ensina ninguém a gostar de ler, muito pelo contrário. Eu mesma, sempre fui uma leitora ávida, mas sofri com essas leituras obrigatórias na época da escola. Do Graciliano Ramos só li uma obra, "Angústia", e foi uma leitura extremamente difícil, tanto que nunca mais li nada dele. Mas pela sua resenha, Caetés parece ser uma leitura mais tranquila, ou talvez hoje eu tenha mais maturidade para ler esse tipo de livro, além de quê estarei lendo por vontade própria e não obrigada. Darei uma chance, com certeza.
ResponderExcluirConcordo com você. Leitura obrigatória não ajuda muito... Convido-te a ler outras obras desse autor, ele é maravilhoso.
ExcluirTenho feito uma ronda por autores de língua portuguesa, penso que já ouvi o nome de Graciliano como um escritor consagrado no Brasil, mas nunca li nada dele, mas fiquei curioso, ainda neste julho li um autor de Manaus que considerei um excelente escritor.
ResponderExcluirNossa, autor de Manaus?? Diz o nome dele para gente pesquisar!
ExcluirEspero que possa ler Graciliano Ramos, ele traça um panorama bem rico da sociedade brasileira do começo do século XX. =)
Confesso que o Graciliano é um daqueles autores com os quais eu criei uma birra, justamente por conta desse fator da obrigatoriedade. São vários autores que eu não li na época da escola e nunca li desde então.
ResponderExcluirTenho que corrigir essa falha que tenho na minha formação literária.
Adorei a resenha. Fiquei realmente interessando pelo livro.
A gente entende isso muito bem. Uma pena que ainda não tenham percebido que obrigatoriedade não é a chave para incentivar a leitura =/
ExcluirAhh sua resenha me despertou a vontade de conhecer a escrita de Graciliano. Eu tenho esse livro mofando aqui na minha estante, e essa resenha me deu forças para pega-lo e finalmente ler <3
ResponderExcluirQue bom que gostou!! Espero que leia e goste da experiência =D
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