“Homens
brotavam, um exército negro, vingador, que germinava lentamente nos
sulcos da terra, crescendo para as colheitas do século futuro, cuja
germinação não tardaria em fazer rebentar a terra.”
Desde
a primeira vez que li um livro naturalista, (O Coruja de Aluísio
Azevedo) fiquei muito interessada por essa escola literária e isso
só aumentou a medida que a estudei na faculdade (para quem não
sabe, sou formada em Letras) e descobri ser ela uma criação do
escritor francês Émile
Zola.
Naquela época não pude ter contato com as obras desse autor porque
a quantidade de leituras era enorme, mas, felizmente, esse ano pude
realizar meu objetivo e li uma das histórias mais intrigantes e
pungentes de toda a minha vida até agora, além de aprender bastante
sobre o comunismo
marxista.
Germinal
foi
publicado em 1885 e retrata a vida de trabalhadores de minas de
carvão no interior da França. Sendo o 13 º volume da série Les
Rougon-Macquart - histoire naturelle et sociale d'une famille sous le
Second Empire
que
narra o declínio de uma família e ao mesmo tempo, como o subtítulo
diz, um estudo sobre a sociedade do Segundo Império. Contudo, não
precisam se assustar, cada livro traz uma narrativa com começo, meio
e fim e podem ser lidos em qualquer ordem.
“Uma
única ideia lhe ocupava o cérebro vazio de operário sem trabalho e
sem teto, a esperança de que o frio se tornasse menos agudo com o
romper do dia.”
Etienne
Lantier
é
demitido de seu trabalho porque bateu em seu chefe quando estava
bêbado. O rapaz vive preocupado com essa predisposição hereditária
ao alcoolismo e à violência. Sem trabalho e sem dinheiro ele chega
a uma mineradora de carvão e consegue um emprego lá como operador
de vagonetes, ao mesmo tempo em que ele, nós conhecemos também a
família Maheu.
Os Maheu são uma família de operários que há mais de um século
dão sua vida para as minas de carvão e veem sua saúde se
deteriorar, vivendo sempre na miséria, sem nenhuma perspectiva de
melhora de vida. Os dessa geração são o velho Boa-Morte, tem esse
nome por ter sido soterrado três vezes no fundo da mina e ter
sobrevivido a todas; o sr. e sra. Maheu e os filhos: Zacharie,
mais velho, mora ainda com os pais, mas já tem dois filhos
ilegítimos; Catherine,
uma jovem de dezesseis anos totalmente submissa a sua condição de
mulher operária, sem nenhuma grande aspiração na vida; Jeanlin,
um pequeno sociopata... Sério, se esse termo já existisse na época,
esse menino com certeza se encaixaria nele; e as crianças: Alzire,
uma deficiente que mesmo assim ajuda muito a mãe nos afazeres
domésticos; Henri
e
Lenóre,
que segundo a própria mãe "só servem para comer e dar
despesas" e Estelle,
uma bebê recém nascida; Já deu para perceber que pela quantidade
de gente, eles passam muitos apertos nessa casa, né...
“As
pessoas viviam tão chegadas, de um extremo a outro, que nenhuma
parcela de vida íntima se conservava oculta, mesmo para as
crianças.”
Em
contrapartida, conhecemos também os Gregóire
e
os Hennebeau.
Os primeiros, são o total oposto dos Maheu: desde o início da
companhia mineradora sempre tiveram algumas ações, logo, acumularam
dinheiro por mais de um século e vivem desse dinheiro, do suor dos
outros, em uma total ociosidade; Os segundos são a família do
diretor da companhia, também vivem em grande conforto e alienação,
enquanto os trabalhadores passam fome.
“O
dinheiro ganho com o suor dos outros é o que mais engorda.”
Etienne
não demora a se acostumar com o trabalho. E a partir do momento que
se integra a vida social local, percebe o quão miserável e
animalesca ela é. Basicamente, os operários preocupam-se apenas com
pão e quando não estão trabalhando, estão fazendo filhos, o que
deixa nosso protagonista frustrado e revoltado.
“As
coisas estavam nesse pé, um descontentamento surdo fermentava na
mina, o próprio Maheu, tão calmo, andava de punhos cerrados.”
Por
causa de uma crise industrial, a companhia decide diminuir os
salários e não demora muito para que germine nos trabalhadores o
sentimento de revolta e, liderados por Etienne, eles começam uma
greve que trará graves consequências para todas as esferas dessa
sociedade.
Em
Germinal,
Zola
faz
uma análise de duas correntes de pensamento muito em voga no século
XIX: o Marxismo
e
a Anarquia. Se você já leu O Manifesto Comunista ou algum texto de
Bakunin,
vai perceber que Zola
sintetizou,
ou melhor, fez uma romantização de ambos os pensamentos e de suas
trajetórias através dessa história, algo muito instigante. Se você
estiver lendo O Manifesto ou qualquer obra sobre o comunismo,
indico muito essa leitura como forma de exemplificá-lo.
“Esse
Karl Marx de vocês ainda acredita que se deve deixar agir as forças
naturais. Nada de política, nada de conspiração, não é isso?
Tudo feito abertamente, luta só pela subida dos salários…”
Incendeiem as cidades, ceifem os povos, arrasem tudo e quando não
sobrar mais nada deste mundo podre, talvez nasça outro melhor dos
escombros.”
Ademais,
Zola
traz
outra corrente filosófica: o Determinismo, mostrando que a grande
maioria dos indivíduos está fadada a sucumbir ao meio no qual está
inserta e que são pouquíssimas as que se sobressaem a ele e
alcançam o "sucesso".
No
campo das figuras de linguagem a que mais aparece aqui é a
zoomorfização, ou animalização. Pois a todo momento o narrador se
dirige aos operários como animais e lhes atribui características de
animais, mostrando como essas pessoas eram vistas por aqueles que não
compartilhavam de sua dura "sorte".
“Escuta,
eu amaldiçoo os dois se eles se amigarem. Então, Zacharie não nos
deve respeito? E custou-nos dinheiro, não foi? Pois então, nos
pague o que deve antes de se grudar a uma mulher…”
Há
também, uma descrição minuciosa dos relacionamentos ao longo da
narrativa, sejam eles convencionais, familiares, de trabalho ou
amorosos. É absurdo ver como os pais daquela época, os pobres,
claro, viam seus filhos como meras fontes de renda, forças braçais
para ajudar no sustento da casa, por isso os vários. As relações
amorosas também têm um análise a parte com as personagens
Catherine e Chaval,
que vivem um relacionamento abusivo e doentio; e o casal Hennebeau
que também vive uma situação abusiva, mas no âmbito da frieza e
da traição.
“Era
Chaval, que entrara de um salto pela porta aberta e lhe dera um coice
de besta furiosa. Havia um minuto que a espreitava do lado de fora. -
Cadela! - urrou ele - Eu te segui, sabia que vinhas aqui foderes até
rebentar! E quem paga és tu, hein? O café que trazes para ele foi
comprado com o meu dinheiro!”
Antes
de iniciar essa leitura, eu já sabia ser um texto bem complexo, por
isso decidi fazer um fichamento da obra. Logicamente, Germinal
é mesmo muito complexo e cheio de nuances que não poderiam ser
comentadas em uma única postagem de blog, mas espero que esse texto
tenha dado a vocês um vislumbre da importância dessa narrativa e os
incentive a lê-la, pois, acreditem, o século retratado é o XIX,
todavia, as desigualdades sociais perduram até hoje e são
idênticas...
Essa parte da história é muito interessante e as vezes não damos relevância, muito boa a resenha, colocarei na minha fila de livros para ler
ResponderExcluirÉ mesmo. Os séculos XVIII e XIX são muito interessantes. Obrigada e espero que goste da leitura.
ExcluirO bom é pode ser lido em qualquer ordem, mas a leitura parece ser muito bos, mas ao meu ver é um pouco complexo o entendimento.
ResponderExcluirCom certeza, essa é uma leitura que traz muitas reflexões e questionamentos.
ExcluirMuitos acontecimentos são atuais, os anos passam, a sociedade continua com os mesmo defeitos, sua resenha me animou este clássico. Bjs
ResponderExcluirSão mesmo. Espero que leia o livro e goste tanto quanto eu.
ExcluirUm clássico complexo e instigante. Certamente é uma leitura muito rica que agrega conhecimento. Sua resenha me inspirou a ler Zola, deve ser uma grande experiência.
ResponderExcluirRealmente, é uma grande experiência e sai dela querendo ler tudo o que ele escreveu. Espero que faça essa leitura. =)
ExcluirAluísio Azevedo tem obras naturalistas muito boas!
ResponderExcluirGerminal eu conheço de nome porém nunca li e pelo que notei a história é intensa.. Abordar a crise industrial com certeza é um marco no livro ♥ Agora vou querer ler, só pelo fato de ter essa parte da história ai.
Espero que leia e goste! O autor faz várias análises interessantes ao longo do livro, com certeza você vai gostar. =)
ExcluirGerminal eu conheço! Adoro! É útil e educativo! Deu até vontade de rever!
ResponderExcluirNossa, que legal!! Primeira pessoa que diz que já leu esse livro também =D
ExcluirNunca tinha ouvido falar desse livro e é bem diferente do que costumo ler, mas mesmo assim me interessei muito pela premissa!
ResponderExcluirwww.estante450.blogspot.com.br
Espero que possa lê-lo e goste! É uma história incrível!! =D
ExcluirObras naturalistas e deterministas são complexas,eu acho a leitura um pouco pesada, lenda e muitos trechos são descritivos em excesso. Enquanto lia a resenha, lembrei de mais de "O cortiço" de aluísio azevedo, visto que ele se inspirou bastande em Emile Zola.
ResponderExcluirPs: Adorei a resenha *-*
De fato, livros do século XIX são mesmo bem descritivos, mas Germinal meio que traz descrições que são muito necessárias, sabe? Não é como se o autor fosse demorar duas páginas para descrever um tapete ou algo do tipo kkkkkkkkkkk Eu também me lembrei muito de O Cortiço lendo esse livro, mas a obra de Zola que inspirou Aluízio Azevedo, especificamente, foi "L'Assommoir", 7º livro da série. =D
ExcluirObrigada pelo comentário!! Que bom que gostou da resenha <3
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirEu já tinha ouvido falar sobre esse livro, mas confesso que nunca tive muito interesse e nem sabia que era um livro naturalista. Confesso que saber disso me desanima mais ainda, pois, ao contrário de você, não gostei de nenhum livro que li dessa escola.
Como a temática e o período histórico não me atraem muito e eu não gosto muito dos livros que li desta escola literária, vou passar a dica desta vez. Porém, adorei a resenha e achei bem completa e explicativa.
Beijos!
Ah, que pena!! Eu sou completamente apaixonada pelo Realismo e Naturalismo, mas gosto é assim mesmo =)
ExcluirOlá tudo bem?
ResponderExcluirSei que o livro é um clássico e que deveríamos querer ler, mas esse sinceramente não me despertou o interesse, adorei sua resenha, mas dessa vez, passo a dica :)
Beijus
Ah, que pena. Esse livro é realmente muito importante...
ExcluirMenina,
ResponderExcluirclássico é clássico e sempre tem que ter seu lugar de destaque. Agora, fiquei meio preocupado em saber que este livro é o 13o! Poxa, sabia que o Émile Zola tinha uma vida plena (e até meio loca) na escrita, mas, de fato, dá para ler em qualquer ordem? Ou simplesmente ignoramos que há outros livros? Será que não tem uma lógica maior por trás deles?
Poxa, de qualquer jeito, dificilmente eu entenderia esta ordem... 13 livros é coisa d+. Mas curti muito a dica! Vou conferir!
Como eu disse, a série é um estudo sobre a sociedade do Segundo Império, na França, então, acredito que para uma pessoa que gosta de História, com certeza, é muito mais interessante ler todos os livros, mas, por Germinal, percebi que os membros da família Rougon-Macquart não se encontram nem são mencionados... Por isso, acho possível ler qualquer um dos livros também. =)
ExcluirOi Andrea, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que não conhecia essa escola literária (quanto a já ter lido algo) e seu post com certeza me deixou bem curiosa. Parece-me ser um livro que precisamos ler com "cuidado", aproveitando todos os momentos e por isso mesmo, minha curiosidade por ele já ficou nas alturas. Essa forma de detalhamento dos relacionamentos chama minha atenção. Adorei, dica anotada!
Beijos!
Você tem toda a razão, Alice. Por isso senti a necessidade de fazer um fichamento desse livro. Espero que você possa lê-lo e que faça uma ótima leitura =)
ExcluirOii!
ResponderExcluirNão conhecia o livro e mesmo você recomendando não sei se leria porque não faz meu estilo de leitura. Mas parece ser uma ótima dica para quem curte livros Naturalistas!
bjs
https://blogperdidanasnuvens.blogspot.com/
Que pena. Na verdade, é um ótimo livro para qualquer um que goste de História e Sociologia também.
ExcluirOi Andrea. Não conhecia o livro, mas sua resenha me despertou muita vontade de embarcar nessa obra. Não costumo ler muitos clássico, devido a alguns traumas. Mas os que li, me apaixonei completamente e sinto que esse se encaixa nisso. Tem uma pegada histórica, pelo o que parece e ai, eu amo. Enfim. Adorei a dica e a sua resenha, parabéns! Beijos
ResponderExcluirhttps://almde50tons.wordpress.com/
Nossa, que bom que gostou!! Espero mesmo que faça essa leitura e que ela seja uma boa experiência para você!! =D
ExcluirOi Andrea,
ResponderExcluirConfesso que essa não é uma obra que chama minha atenção, mas admiro quem se interessa e a lê. Tem sua relevância.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br
Tem mesmo! E é muito boa =D
ExcluirOlá, Andrea, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que não conhecia esse livro, até então. Nunca ouvi falar mesmo! Mas parece interessante demais. Principalmente pela sua ressalva do final contexto, quando diz das semelhanças das mazelas sociais de ontem e de hoje.
Di ~ Vida & Letras
www.vidaeletras.com.br
Nossa,sério, Diego? Pois espero que você o leia um dia porque realmente é muito bom!
Excluirinteressei muito pela premissa!
ResponderExcluir=)
ExcluirÓtima dica. Nunca parei para ler livros nesse linha e confesso que me chamou a atenção. Gostei da resenha.
ResponderExcluirObrigada! Que bom que gostou =)
ExcluirOlá!
ResponderExcluirNão sou de ler esse livros, mas fico mega curiosa com as histórias, são ricas pela época que são escritas e isso é algo que temos que preservar e ir passando para as demais gerações. ótima resenha!
beijos!
Concordo com você, Tahis. Espero que um dia possa ler esse livro. =)
ExcluirLouca para ler esse livro de uma riqueza imensa, nos levando de volta no tempo e nós fazendo refletir.
ResponderExcluir1 pessoa achou isso útil
Fico muito feliz que tenha gostado! Espero mesmo que possa fazer essa leitura e possa refletir e gostar tanto quanto eu! =D
ExcluirÉ incrível como problemas tão antigos ainda persistem nos dias de hoje. Não conheci o livro mas gostei muito do contexto histórico dele. Dica anotada.
ResponderExcluirBjs Rose
Verdade... Espero que possa lê-lo um dia. =)
ExcluirOi, tudo bem ?
ResponderExcluirAinda não conhecia a obra e poder conhecer ela através de uma pessoa que leu a obra é maravilhoso. Achei seu ponto de vista muito sincero e rico. O livro parece ser uma ótima leitura.
Que bom que gostou! Esse livro é mesmo incrível! =)
ExcluirOii, tudo bem? Não tenho o hábito de ler clássicos por preguiça (não me julguem), mas adoro anotar dicas e quem sabe desfrutar de uma boa leitura no futuro. Eu peguei umas dicas esses dias e amei os livros que li.
ResponderExcluirAdorei o post e anotei 🙅
Os clássicos são muito subestimados... Espero que você possa ler esse livro e goste! =)
Excluir