Sou um hipócrita. Sempre concordo com aqueles discursos anticorrupção, compartilho mensagens deste teor nas redes sociais, grito a frase sem propósito “fora, Temer!”. Contudo, assisto a filmes e séries em sites duvidosos, uso e abuso de torrents piratas, PDFs de livros distribuídos sem autorização. Pequenas corrupções. Uma lista interminável delas. Ainda assim, preciso de um emprego para pagar meu acesso à internet, a energia elétrica de casa, as roupas, os Burger Kings e McDonald’s. Nas palavras de Tyler Durden, “porcarias de que não precisamos”. Creio que, se eu participasse de uma noite no Clube da Luta, Tyler socaria minha cara até arrancar todos os meus dentes.
Não pretendo nesta postagem apresentar o Clube, pois a Andréa já fez este trabalho de maneira excelente. Caso você ainda não tenha lido a primeira publicação dela sobre este livro de Chuck Palahniuk, clique aqui antes de seguir em frente.
Acredito que o Clube da Luta foi a segunda leitura mais violenta que eu fiz até hoje, perdendo apenas para O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. Ambos não têm nada a ver, exceto pela violência. No caso do Clube, o cerne é basicamente existencialista, uma vez que Palahniuk se apoia na ideia de self destruction como caminho para a libertação. Não se trata de um texto sobre lutas, mas algo muito maior; este livro nos impele a refletir sobre nossos hábitos prejudiciais de consumo, nossa falta de vigor e preocupação com relação à sociedade na qual fazemos parte.
Sobre o estilo empregado pelo autor, creio que todo consumidor da obra sinta certa aversão às palavras. Se você ainda não leu e pretende fazê-lo, tenha consciência de que estará pondo as mãos em coisas sujas. No Clube da Luta você não dorme, você abraça homens suados e sangrando, você trabalha como garçom num hotel chique e urina na sopa dos hóspedes. A narrativa em primeira pessoa coloca você no centro da história, lado a lado com Tyler Durden, a pessoa que vai lhe salvar do lixão existencial que é a sua vida.
Quando Chuck Palahniuk teve a ideia de escrever o Clube da Luta, ele estava entediado no trabalho. Para passar o tempo ocioso, decidiu criar um conto, e para tanto seguiu o padrão de sete páginas que seu professor de redação lhe ensinara. O texto se originou como um Frankenstein: uma junção de vários detalhes que rodeavam o autor naquele momento.
Por exemplo, na época estavam em alta nas livrarias coleções como “clube de artesanato das empreendedoras” ou “clube de moda para mulheres”. Vendo este tipo de livro, Palahniuk decidiu criar em seu texto uma versão “for men” dessa tendência. Outra inspiração do autor foi uma reportagem de TV cujo tema tratava dos perigosos meninos criados sem pai, que se uniam em gangues de rua e enfrentavam-se em lutas violentas.
O resultado da junção de tais ideias se deu como Clube da Luta, um conto de sete páginas escrito e publicado numa antologia chamada The Pursuit of Happiness, pela editora norte-americana Blue Heron Press, sendo a primeira obra de Palahniuk a vir a público. Alguns anos depois, este conto se tornou o capítulo 6 do livro Clube da Luta.
Logo que foi publicado, em 1996, a obra foi alvo de críticas diversas. Em suma, poucas pessoas entendiam o real intuito do autor. Um detalhe que achei particularmente interessante está num relato do próprio Chuck. Segue a paráfrase:
“Em um avião para Portland um comissário de bordo se aproximou de mim e pediu para eu dizer a verdade a ele. Sua teoria era de que o livro não era sobre lutas. Ele insistia que era sobre gays assistindo uns aos outros transando em saunas públicas. E respondi que sim, que se dane. E ele me deu bebidas grátis pelo resto do voo” (Chuck Palahniuk. Clube da Luta. Leya, 2012, p. 268).
Como você pode ver, eu li a edição mais atual da Leya. Considero uma boa edição por terem usado papel pólen (aquele amarelinho que não cansa a vista) e as orelhas são bem grandes, o que dá maior sustentação à capa. Falando nela, tem detalhes em auto relevo e mistura parte fosca e espelhada, criando um efeito bonito. A revisão deixou a desejar do capítulo 8 ao 10, com palavras ora faltando, ora em duplicidade. Em alguns momentos isto pode desencorajar a leitura, mas não desista! Do capítulo 11 em diante tudo volta ao normal, sendo garantidos os socos e pontapés (não necessariamente físicos, mas existenciais).
Por Samuel de Andrade
Começo o comentário citando o título de um livro do Nietzsche: "Humano, demasiado humano" Ao contrário do que você disse na postagem (e é bom mesmo alertar ao leitor comum) que não senti qualquer aversão a palavra alguma escrita no livro. Justamente pelo que citei no início do comentário: "Humano, demasiado humano". O livro é uma obra-prima. Uma fluidez tão grande de humanidade (apesar da loucura dos Tylers Durdens) que não trazer as expressões vocabulares que eles certamente deveriam utilizar seria um crime! Concordo plenamente que é sujo. Muito sujo, mas o sujo aqui é belo simplesmente porque vira a arte de ser espelho da própria vida! Gostei da sua análise da obra e, à propósito também li "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Bronte - citado por você pouco antes da belíssima gravura. Também é dos meus prediletos. Não pela violência obviamente, mas pela grandiosidade da trama e do aprofundamento nos assuntos humanos. Ambos livros e filmes incríveis. Vale a pena conferir. O morro dos ventos.... Tem mais de uma versão cinematográfica, inclusive. Com base no livro, aconselho apenas a do diretor Peter Kosminsky com Juliette Binoche no papel da sofrida Catherine Earnshaw (mãe e filha).
ResponderExcluir‘os Burger Kings e McDonald’s’ não gasto meu dinheiro com o veneno que esses lugares oferecem, mas grito linda ao lado do MST “Fora, Temer golpista!”. Sobre o livro, é extraordinário, não o considero a leitura mais violenta, nem mesmo ‘O Morro dos Ventos Uivantes’, apesar de ambos maravilhosos e dignos de total atenção. a escrita de Palahniuk se popularizou de forma interessante, pois, sua escrita é rica, carregada de densidade na medida e críticas pertinentes.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu nunca li essa obra, mas fiquei fascinada com seus comentários. Realmente parece ser uma obra bem intensa, com passagens violentas.
Não sei se encararia uma leitura assim, e gostei das suas observações técnicas quanto ao livro.
Beijos!
Camila de Moraes.
Adoro o filme, é um dos meus favoritos. Mesmo assim nunca li o livro, mas só imaginar que seja ainda mais denso. Com certeza, ainda pretendo ler
ResponderExcluirEu só assisti o filme, mas vejo vários comentários sobre o livro e sobre o autor, fiquei curiosa para ler a obra e entender o que todo mundo gosta tanto.
ResponderExcluirBeijos
Mari
www.pequenosretalhos.com
Eu ainda não li o livro mas tenho muita vontade, vejo opiniões muito diferentes sobre ele mas é assim mesmo, somos todos diferentes. Eu pretendo realizar a leitura em algum momento, acho que é um livro que merce ser lido e se a leitura vai me agradar ou não é outra história, mas preciso lê-lo.
ResponderExcluirNão li mas deu para perceber que é uma leitura bastante intensa. Gostei.
ResponderExcluirhttp://livrosepapel.blogspot.pt/
Olá! Já faz eras que quero ler o livro ou ver o filme, mas ainda não o fiz.
ResponderExcluirE não sabia que tinha tanta violência assim.
Vou ver se leio ainda esse ano mês, seu texto me deu mais vontade ainda haha. Adorei o texto!
Abraços!
Dessas pequenas corrupções que você citou, eu só não acesso sites duvidosos, rsrsrs. Quanto às obras, faz tanto tempo que li "O Morro dos Ventos Uivantes" que não lembro mais (preciso ver a versão cinematográfica); "Clube ada Luta" não vi o filme e não sei se lerei devido à violência. Em todo caso gostei da resenha!!
ResponderExcluirBjos!
Eu sempre via comentários positivos a respeito desse livro mas nunca tinha parado para saber do que realmente se tratava.
ResponderExcluirEssa ênfase que você nos proporcionou me deu uma enorme vontade de lê-lo e por fim, refletir sobre minhas ações.
Anotado na wishlist!
Bjs
Olá, Samuel! Tudo bem?
ResponderExcluirPrimeiramente, quero parabenizar pelo texto. Adorei a forma como expressou suas ideias e opiniões sobre o livro.
Eu confesso que quando li essa obra, fiquei meio bugada. Não por não ter entendido, mas por todas as reflexões que ela nos propõe, como você mesmo disse. Não senti qualquer aversão ou dificuldade com a escrita, talvez porque costumo gostar de narrações não-lineares.
Realmente é um livro violento em diversos sentidos. E concordo com você, quando diz que é um livro sujo. Mas, ao mesmo tempo, é um sujo belo. Não sei se me entende. Rsrs...
Enfim, adorei a sua resenha. Parabéns!!
=D
Não li o livro, mas sem dúvida está entre meus filmes favoritos. O estilo de vida do Tyler, sua autenticidade é uma grande lição para nós. E sempre que dá aquele revolta, dá pra soltar um bonito "dane-se" para as expectativas alheias e se apegar ao que de fato somos, sem máscaras.
ResponderExcluirAmei suas considerações e sua forma culta de se expressar.
Bjsss
Sabe que nunca tive vontade de ler Clube da Luta? Pelo menos até hje... Nem sei explicar direito os motivos do desinteresse. Gostei de sua sinceridade ali no início. Muitos de nós fazemos exatamente a mesma coisa, mas poucos assumem que colaboram para esta corrupção sem fim.
ResponderExcluirBjs, Rose.
Vejo várias pessoas falando sobre esse livro, mas nunca fui atrás e nem sequer sabia sobre o que se tratava. Confesso que gostei bastante da sua análise e agora compreendo o tanto de comentários positivos sobre essa obra. Já quero ler!
ResponderExcluirOI!!
ResponderExcluirAntes de tudo parabéns pelas palavras, você se expressa muito bem. Ainda não tive a oportunidade de ler o conto e mesmo com toda essa crise de existencialismo que a reflexão proporciona ainda não me sinto cativada pela obra. Talvez em outro momento e circunstâncias me sinta atraída. Obrigada pela dica. Beijos!
Olá!
ResponderExcluirNão li ainda, mas li e ouvi inúmeros comentários que me aguçaram a curiosidade, principalmente porque assisti ao filme e fiquei com algumas interrogações. Com certeza na época não pude compreender bem.
Bjs
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirNunca li a obra, e o filme não chamou muito a minha atenção, mas quem sabe o livro possa ser uma experiência interessante.
Um beijo.
Oi, Samuuel! Faz tanto tempo que vi esse filme que não me lembro de nada, exceto a revelação da história haha. Ando querendo ler o livro faz tempo e perdi várias oportunidades de comprar rs. Gostei muito da sua análise, e se for exatamente assim, eu não havia entendido nada do filme! kkkk Justificando, eu era muito novinha,tinha uns onze anos, e assisti por causa do Brad Pitt kkk. Claro, não tinha o pensamento de hoje e nem me preocupava em interpretar e refletir sobre a história. Enfim, pretendo ler em breve, e creio que muita coisa vai ser como a primneira vez pra mim, já que não lembro muito. Beijos.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu tenho o ebook mas ainda não tive tempo para ler, espero fazer logo, pois essa é a primeira resenha dele que leio. Obrigada pela análise!
Olá, Samuel, tudo bem? Gostei muuito do seu post! Eu já tentei assistir ao filme, mas não sei bem o porquê acabei não terminando. Farei isso logo. Queria muito ler o livro antes, especialmente depois do seu post, mas não creio que conseguirei muito em breve. Essa é uma trama que me deixa bastaaante curiosa, por tudo o que ela envolve, e tenho certeza que irei gostar, ao menos um pouco.
ResponderExcluirBeijos!!
Olá!
ResponderExcluirGostei muito de poder conferir a sua opinião! Eu ainda não li o livro, e assisti ao filme há muito tempo atrás, então não lembro muito bem, mas tenho muita vontade de continuar.
Beijos.
Olá, tudo bem??
ResponderExcluirAdorei as imagens, são maravilhosas... eu assisti o filme já faz um tempão e eu adorei a sua análise. Foi bem interessante saber como pensa em muitos detalhes sobre a obra em geral recorrente ao filme também. Penso em assistir de novo depois de tudo que encontrei por aqui. Xero!
Olá! Gostei muito do seu texto e da forma como você expôs suas ideias. Nunca li o livro, mas as críticas que vejo sobre ele são sempre positivas. Gostei da sua análise, me deixou bastante curiosa para conhecer essa obra prima. Beijos!
ResponderExcluirAcho que para quem está acostumada a ler dark fantasy e gore (terror realista), Clube da Luta não chega a ser uma leitura tão complicada. Sei que fez um tremendo sucesso, vários prêmios e que tem seu quinhão de mensagens a serem exploradas pelos leitores ávidos. Eu amo boas discussões de fundo filosófico. Não cheguei a ver o filme, por não ter lido o livro. Talvez me aventure a ambos. Abçs!
ResponderExcluirOlá Samuel,
ResponderExcluirAinda não tive a oportunidade de ler esse livro, mas estou bastante curiosa para lê-lo, pois acho a premissa dele muito interessante.
É uma pena que a revisão tenha deixado a desejar em alguns capítulos e bacana que ele tenha fluido de forma bacana depois.
Espeto ter a oportunidade de ler esse livro em breve.
Beijos
Vou te dizer o que eu mais amo neste livro é a possibilidade de interpretação. Ele pode ser sobre a vida, sobre a sociedade, sobre a solidão, sobre a loucura ou sobre tudo isso junto. Eu gosto quando um livro pode se adequar à quem está lendo, é o mesmo que acontece com o pequeno príncipe, você pode simplesmente ler a história de um príncipe ou do mundo todo, ou da raposa.
ResponderExcluirAdorei a sua resenha e confesso, nunca pensei que poderiam ser de gays nas saunas rs.
Oii, tudo bem?
ResponderExcluirAinda não li o livro e nem vi o filme, mas tenho muita vontade. Já vi várias teorias que acho muito interessantes, ainda leio a obra!
Beijos