Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett
Boa tarde, queridos! Como prometido falarei nesta página sobre as leituras da FUVEST começando primeiramente pelos livros que representam o romantismo, ou seja, Viagens na minha terra, Til e Memórias de um sargento de milicias. Antes de começarmos a dissecar o primeiro, vamos traçar o contexto histórico cultural do período romântico europeu.
Contexto histórico cultural do Romantismo
Como eu vivo dizendo em aula, toda manifestação cultural vai seguir a sociedade, logo, cultura e sociedade andam juntas. O período em que o movimento romântico surge, é aquele em que a Europa passava por grandes transformações, nós tínhamos uma nobreza falida que já não conseguia arcar com os avanços da nação, as revoluções industriais, as revoluções liberais, os ideais Iluministas, as ideias de Rousseau... O mundo estava mudando e arte também precisava mudar.
O romantismo é tido como o movimento artístico que representa a classe burguesa, porque a nobreza era representada pelos ideias clássicos (classicismo, arcadismo), soneto, versos decassílabos, as oitavas, tudo era muito formal e bem estruturado, nós tínhamos a Epopeia - poema épico que representava as glórias de um povo - sendo que o protagonista desses poemas narrativos era sempre um nobre, representando essa classe, as personagens épicas eram sempre personagens "rasas" ou "planas", não paravam para refletir sobre suas ações, elas eram apenas levadas pelos acontecimentos. Mas, a personagem romântica também pode ser rasa, só que o romantismo vai exaltar o povo burguês, seus valores e suas concepções de mundo.
Como características dessa escola, temos: exaltação do "eu" - o romântico é egocêntrico, pensa apenas em si e em seus problemas; o ufanismo - exaltação da pátria de forma exagerada; o idealismo - o romântico nunca verá a vida como ela realmente é, ele sempre terá uma visão deturpada, imaginária; o escapismo - quando a idealização cai por terra, o romântico vai refugiar-se na morte, na loucura ou mesmo em memórias da infância; Outra coisa importante a dizer sobre esse movimento é que ele inicia alguma preocupação com o meio social, no entanto esta é superficial, sem qualquer plano de ação. Os românticos também pautaram-se muito nas ideias de Rousseau sobre o "gentil homem", veremos essa característica muito bem demarcada nos romances indianistas e regionais brasileiros.
Contexto histórico de Viagens na minha Terra
Almeida Garrett introduziu o romantismo em Portugal quando escreveu o poema Camões, mas ele revolucionou esse movimento em nossa língua ao escrever VNMT, pois o livro é permeado de ufanismo e metonímias que trazem uma profunda reflexão do autor a respeito dos conflitos que ocorriam em seu país, além da narrativa não linear que mescla a viagem, com o episódio da menina dos rouxinóis.
O conflito em que vivia Portugal na época, era a Revolução Liberal, na qual os irmãos D. Pedro I e D. Miguel lutavam pelo poderio desse país, o problema é que essa revolução acabou por destruir grande parte do país e o marcou profundamente.
Garrett foi liberal e escreve VNMT como uma reflexão sobre os rumos que sua terra tomou a partir da Revolução.
O livro
Nosso narrador decide partir de Lisboa à cidade de Santarém, destino de várias peregrinações. Ao longo de toda a viagem que tem um único destino - Santarém - o autor faz uma série de "viagens" reflexivas sobre cada cidade por onde passa, mostrando a total desilusão que tinha da história de Portugal. Um exemplo dessa desilusão é quando o narrador chega aos "místicos" Pinhais de Azambuja e percebe que de misticos eles não tem nada, trazendo a tona a triste realidade para o narrador, que percebe que "sua Portugal" era uma fantasia, uma ilusão.
Nós também somos apresentados a estória da "menina dos rouxinóis", novela passional, ou seja, narrativa curta com final trágico, que permeará o livro até o desfecho da viagem. Nessa novela conheceremos a estoria de Carlos e Joaninha, primos que são separados por várias intrigas familiares e que mais tarde se encontram e apaixonam-se um pelo outro. O problema é que Carlos saiu de casa e tornou-se um Liberal, indo contra as vontades de Frei Dinis, que era tão odiado por Carlos e depois, este descobre ser filho do mesmo, essa revelação deixa Carlos ainda mais revoltado, Joaninha cai doente quando este vai embora e por fim, morre.
Temos ao longo de toda a narrativa os ideias defendidos pela primeira fase do romantismo, fase esta que era muito ufanista e exaltava sempre os valores burgueses, percebemos isso com a sentença de Joaninha, a moça em si era pura, nunca fizera nada de errado, mas o destino decidiu castigar o Frei que teve um filho ilegitimo, a avó que escondeu tudo e o próprio pai da moça que tentou juntamente com o cunhado matar Dinis e acabou morto, tirando a vida da pobre moça que era amada por todos.
A narrativa de Garrett traz inúmeras intertextualidades com pensamentos de grandes filósofos sem falar nas reflexões de caráter também filosófico que o próprio autor traz.
A importância desse livro está em sua narrativa que vai nos mostrar traços inovadores como as digressões, a conversa do narrador com o leitor, a novela passional no meio da narrativa de viagem, e esta própria mostrando-nos a verdadeira Portugal do período.
Espero que tenham gostado do post que ficou muito muito extenso, mas para falar de literatura é preciso contextualizar! Bjxx
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