Maria José Duprè,
grande escritora em uma época em que para a sociedade, mulher deveria ficar em
casa cuidando dos filhos, e apenas isso, quebrou paradigmas ao escrever Éramos
Seis livro de linguagem simples mas muito envolvente, rendendo-lhe diversos prêmios
da literatura brasileira sendo traduzido para diversos idiomas alcançando um
sucesso estrondoso para a época.
No livro somos levados
ao convívio dos Lemos, uma típica família de classe média paulistana. Dona Lola
é a protagonista e narradora da história, que começa com os seis integrantes da
família juntos: Ela, o marido Júlio e os filhos, Carlos, Alfredo, Maria Isabel
e Julinho. Nos primeiros capítulos vemos
os desafios de D. Lola para criar e educar os filhos, pagar as prestações da
tão sonhada casa própria e lidar com o gênio difícil do marido, tudo isso
descrito de forma sutil e delicada, o leitor sente como se estivesse
conversando com a dona de casa enquanto toma o chá das cinco.
Entretanto, a rotina da
família é abalada com a morte de Júlio, que deixa mulher e filhos desamparados,
com isso D. Lola vê-se obrigada a vender a casa em que vivera tantos anos
felizes, passa a trabalhar muito, priva-se de tudo e vê um por um de seus
filhos ir embora, até que os seis se reduzem a apenas um: Ela que na solidão e
melancolia de sua velhice nos relata a triste e decepcionante história de sua
vida.
Apesar de ser
cativante, o enredo de Éramos Seis causa um pouco de revolta. É ultrajante ver
a submissão de D. Lola perante o marido! Durante toda a narrativa temos a
impressão de que, para os filhos e marido ela é apenas uma empregada, alguém
que está ali para cuidar de todos, limpar, cozinhar, e que não participa
realmente das decisões familiares. Talvez, essa docilidade excessiva fora a
grande causadora do distanciamento dos filhos, que não viam na mãe um exemplo a
ser seguido, não percebendo que todas as privações e todas as humilhações que
ela passou, foram apenas para que eles tivessem um bom futuro, foi tudo por
eles. Ainda assim o livro não deixa de ser encantador e de uma narrativa
delicada e muito bem articulada apesar do estilo próximo ao coloquial, que nos
faz sentir pena de D. Lola e nos faz torcer para que ela tenha um pouco de
conforto em sua velhice.
Éramos Seis é um livro
que pode ser lido por homens, mulheres, adultos, crianças, independente de
classe social. Nós, filhos, sempre lembraremos de nossas mães em cada gesto de
amor e paciência, e as mães sempre verão nelas mesmas esse amor incondicional
que não espera nada em troca, que se doa e quer apenas a felicidade de sua
família, mesmo que isso signifique ter como únicos companheiros a solidão e as
memórias de uma vida que ficou no passado.
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